Título: Folha salarial representa 70% dos gastos no Rio
Autor: Ewbank Victor, Dorio; Gustavo Schmitt, Luiz
Fonte: O Globo, 09/07/2012, O País, p. 3

Casa gasta R$ 2,6 milhões com selos postais por ano e funcionários comissionados são o dobro dos efetivos

Só para pagar salários da Câmara do Rio, são necessários 278 milhões com gastos de pessoal (vereadores, servidores efetivos e comissionados) e encargos sociais, de um orçamento de R$ 398 milhões. Os funcionários comissionados equivalem ao dobro dos concursados: 1.415, ante outros 776 efetivos, de acordo com o Portal Transparência.

Cada parlamentar pode nomear até 20 cargos de indicação política. A lista é extensa: um assessor-chefe; um consultor; um assessor especial; dois assessores; dois assistentes; seis oficiais de gabinete e sete auxiliares de gabinete. O salário bruto desses profissionais varia de R$ 2,4 mil a R$ 15 mil. Por baixo, a estimativa é que o gasto mensal com esses cargos é de cerca de R$ 3,8 milhões para os 51 gabinetes ou R$ 46 milhões anuais.

No entanto, o custo dos comissionados não para por aí. Eles também recebem R$ 775 de auxílio alimentação, R$ 516 de auxílio saúde, R$ 516 de auxílio transporte e ainda uma gratificação classificada como "dedicação legislativa". Essa última poderia variar entre R$ 500 e R$ 2,1 mil, segundo o Portal Transparência da Casa.

Esses valores foram incluídos no site após questionamentos do GLOBO, feitos na quinta-feira. Até então, eles só estavam discriminados nos vencimentos dos funcionários efetivos da Casa. A página, que saiu do ar entre a noite de sexta-feira e sábado à tarde, não informava, porém, os encargos especiais, uma espécie de gratificação de cerca de R$ 2 mil, que pode ser concedida a no máximo cinco funcionários de um vereador.

Para Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil, a estrutura inflada da Câmara se justifica só por um motivo: a satisfação dos interesses eleitorais dos vereadores.

- Toda essa estrutura serve para abrigar os cabos eleitorais. É uma prática disseminada em todo o país - afirma Abramo.

A vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB) explica que a Casa precisa de mais transparência:

- A Câmara precisa se adequar à Lei de Acesso à Informação Pública. O portal Transparência não informa as despesas detalhadas e tem pouca serventia à população - diz a vereadora.

A Câmara também tem gastos curiosos. Um vereador tem direito a utilizar mil litros de gasolina por mês. O preço médio da gasolina no Rio de Janeiro custa R$ 2,81, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Os parlamentares despendem R$ 1,7 milhões para abastecer seus veículos anualmente. Os pagamentos são feitos por meio de um cartão em postos de um rede credenciada pela Casa.

Considerando que um carro, em média, percorre dez quilômetros por litro, cada vereador poderia andar por 10.000 quilômetros mensais. A Câmara não explicou quais são os postos credenciados para abastecimento.

Em tempos de internet e redes sociais, as cartas se tornam cada vez menos utilizadas como meio de comunicação. Apesar disso, todo mês cada vereador recebe 4 mil selos ao custo de R$ 1,10. Sendo assim, ao longo de um ano, essas despesas alcançam R$ 2,6 milhões. De acordo com assessores de gabinetes, os selos são utilizados pelos parlamentares durante as campanhas eleitorais e também para o envio de cartas de felicitações em datas comemorativas.

Procurado pela reportagem, o presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felipe, preferiu não comentar o assunto, assim como o presidente da Comissão de Finanças, o vereador professor Uóston (PMDB).