Título: Senado decide na quarta se cassa Demóstenes
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 09/07/2012, O País, p. 9

BRASÍLIA . O Senado vota o pedido de cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) nesta quarta-feira, em um clima de preocupação com a imagem da Casa e má vontade em relação ao senador goiano, que passou de ferrenho defensor da ética a acusado de ser "despachante de luxo" do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Mas Demóstenes ainda trabalha pela absolvição na votação, secreta. Para que perca o mandato, é preciso haver 41 votos favoráveis à cassação. Assim, eventuais ausências contam a favor do senador.

Setores de PMDB, PTB, PR, PP e PSDB estão dispostos a votar pela absolvição. Há senadores contrários à cassação em qualquer circunstância. Consideram a perda de mandato pena muito pesada. Há ainda preocupação em criar o precedente de cassar um senador baseado em escutas feitas sem autorização do Supremo Tribunal Federal.

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, dizem que a operação foi legal porque Demóstenes não era o alvo, aparecendo de forma lateral ao conversar com Cachoeira.

Na contabilidade de lideranças do Senado, três senadores que votaram pela cassação no Conselho de Ética, com voto aberto, devem mudá-lo no plenário, onde o voto é secreto: Ciro Nogueira (PP-PI), Vicentinho Alves (PR-TO) e Cyro Miranda (PSDB-GO). Além deles, Lúcia Vânia (PSDB-GO), Ivo Cassol (PP-RO), Benedito de Lira (PP-AL) e Lobão Filho (PMDB-MA) são considerados votos certos pela absolvição.

No Conselho de Ética, que recomendou a cassação, os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Jayme Campos (DEM-MT) apoiaram requerimento da defesa para fazer perícia nas gravações e protelar o processo por quebra de decoro. Já o presidente e líder do DEM, senador José Agripino (RN), viajou e não foi à votação do processo por quebra de decoro na Comissão de Constituição e Justiça. No dia anterior, estava no Senado.

Apesar disso, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que ano passado teve um bate-boca em plenário com Demóstenes, afirmou na última quinta-feira que o clima na Casa é "bem desfavorável" ao senador goiano. Sarney crê em presença maciça dos senadores para votar o pedido de cassação.

Não há boa vontade no Senado em relação a Demóstenes, seja porque ele era implacável nas cobranças, seja porque senadores que tinham afinidade com ele se sentiram enganados. Muitos também não querem pagar o preço do desgaste pela absolvição de um colega acusado de ligação com um bicheiro. Há ainda corrente que defende que Demóstenes seja cassado para dar resposta ao escândalo da vez, já que a CPI do Cachoeira patina.

Nesta reta final, Demóstenes mudou de estratégia, quebrou o silêncio e tem ocupado a tribuna do Senado diariamente para se defender. Começou a semana pedindo desculpa aos senadores, em tom humilde e emocional, e terminou fazendo ameaça velada de revelar quem teria sido beneficiado pelo bicheiro.

- Como pessoa, eu o desculpo; como senador, não - disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).