Título: Festa sólida, comk alguns impasses
Autor:
Fonte: O Globo, 09/07/2012, Rio, p. 14

A décima edição da Flip, encerrada ontem, marcou a consolidação de um modelo desenvolvido ao longo da ultima década, com mudanças pontuais bem recebidas pelo público, mas mostrou também a permanência de impasses na organização do evento, como a decisão de não pagar cachês a autores e mediadores, postura que divide o setor. Entre as novidades, destacaram-se a ampliação das atividades em torno do autor homenageado - este ano, Carlos Drummond de Andrade - e as alterações na disposição de tendas e espaços expositivos, que facilitaram a circulação do público, mas também receberam algumas ressalvas.

Miguel Conde permanecerá como curador em 2013

Com curadoria do jornalista Miguel Conde, cuja participação foi confirmada para a próxima Flip, a edição deste ano teve como novidade mais visível a extensão da homenagem a Drummond por toda a programação principal. Até 2011, eram realizadas apenas algumas mesas sobre os homenageados. Este ano, além delas, houve leitura de poemas de Drummond na abertura de todas as mesas. Assim, o público teve um acesso mais direto à sua obra. A Tenda dos Autores testemunhou cenas memoráveis, como a leitura do "Poema de sete faces" pelo poeta sírio Adonis, em tradução para o árabe feita pelo próprio, a partir da versão em francês.

Ainda não se sabe se a experiência será repetida no ano que vem, assim como não se sabe quem será o homenageado. Há especulações sobre o nome de Graciliano Ramos, autor que chegou a ser cogitado para 2012 e cuja morte completa 60 anos em 2013. Mas Mauro Munhoz, presidente da Casa Azul, fundação organizadora do evento, garante que o nome ainda não foi definido.

- Nós só vamos fazer o anúncio entre agosto e setembro - disse Munhoz, em entrevista coletiva, que também contou com a participação da inglesa Liz Calder, idealizadora da Flip.

Munhoz destacou ainda o estreitamento dos laços do festival com Paraty na última década.

- Este ano tivemos 135 eventos em todas as partes de Paraty, e uma estimativa de 25 mil visitantes na cidade nos cinco dias.

O público desta edição encontrou uma estrutura diferente das anteriores. No espaço onde, no ano passado, havia um corredor institucional com estandes de patrocinadores, foi criada uma área livre à beira do Rio Perequê-Açu, ligando as tendas dos Autores e do Telão. O espaço, ocupado por uma exposição de Walter Craveiro, fotógrafo oficial do evento, com 46 retratos de autores presentes desde a primeira edição, valorizou a paisagem de Paraty e facilitou a circulação do público. Mas houve críticas quanto à localização da livraria, mais distante da Tenda dos Autores. Também há descontentamentos com relação ao fato de a Flip não pagar cachês para debatedores e mediadores - o que, no caso dos mediadores, pode ser revisto em 2013.

Entre as mesas que mais empolgaram, destacam-se as três em homenagem a Drummond, principalmente a conversa erudita e espirituosa entre os críticos Alcides Vilaça e Antonio Carlos Secchin, na quinta-feira, e a intervenção comovente do poeta Carlito Azevedo, que leu ontem poema inédito em homenagem a Drummond.

Também fizeram sucesso o debate sobre política e cultura árabe entre o poeta sírio Adonis e o escritor franco-libanês Amin Maalouf, na sexta-feira; o animado bate-papo com os cartunistas Laerte e Angeli na noite de sábado; e a simpática conversa entre Rubens Figueiredo e Francisco Dantas ontem. A maior decepção da programação foi o americano Jonathan Franzen, uma das atrações mais aguardadas, que protagonizou uma mesa arrastada no horário nobre de sexta-feira. (André Miranda, Carolina Ribeiro, Catharina Wrede, Guilherme Freitas, Leonardo Cazes, Liv Brandão, Mariana Filgueiras e Thaís Britto