Título: Economia precisa é de mais investimento
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Fonte: O Globo, 07/07/2012, Opinião, p. 6

Os dados referentes à indústria brasileira continuam desanimadores. A produção física, mensurada pelo IBGE, declinou em maio mais do que o esperado - 4,3% em relação ao mesmo mês do ano passado. E a capacidade ociosa do setor, segundo a Confederação Nacional da Indústria, é no momento uma das maiores nos últimos anos.

O fenômeno não é exclusivamente brasileiro, pois a indústria vem funcionando com ociosidade especialmente nos países desenvolvidos, há algum tempo. Fábricas têm sido fechadas ou paralisadas em vários países da Europa. Recentemente, o grupo alemão ThyssenKrupp resolveu pôr à venda suas duas novas siderúrgicas, construídas no Rio de Janeiro e no estado do Alabama, Estados Unidos, devido a uma frustração de demanda nos mercados americano e europeus, para os quais a produção dessas usinas havia sido projetada.

Em face do efeito multiplicador da indústria sobre o conjunto da economia, o governo brasileiro tem procurado ajudar o setor com redução de impostos e estímulos ao crédito para a compra de bens de consumo. A fórmula também foi adotada na crise de 2008/2009, mas agora é visível que esses incentivos pontuais não parecem surtir o mesmo efeito, até porque a demanda reprimida daquela época já foi em boa parte atendida.

Os chamados novos consumidores estariam com a renda comprometida na quitação de financiamentos obtidos no passado e não têm condições de se endividar mais. Se isso ocorresse, aliás, talvez a saúde do sistema financeiro brasileiro ficasse em risco, pela crescimento da inadimplência.

Mas, se há ociosidade na indústria de transformação, não se pode dizer o mesmo da infraestrutura brasileira. O país precisa urgentemente acelerar investimentos nos segmentos de infraestrutura, tanto para ampliá-los como para melhorar sua qualidade. São investimentos que dependem de uma combinação de capitais privados e públicos, o que pressupõe uma reorientação dos gastos governamentais e uma política que desonere as inversões.

O Brasil tem ainda um enorme déficit habitacional e índices de saneamento básico vexaminosos. Os sistemas de transporte se mostram saturados, mesmo com a economia caminhando em ritmo moderado de crescimento. Na energia elétrica e nas telecomunicações, a margem de segurança é estreita, o que encarece estes serviços.

Mais investimentos em infraestrutura certamente se refletirão de maneira positiva sobre a indústria, pelo lado da demanda de bens, ou pelo aumento de competitividade que poderá proporcionar ao setor. Para a economia brasileira crescer de maneira sustentável, dentro do seu potencial e sem pressionar a inflação, a política econômica precisa estar mais focada no investimento, e menos na tentativa de estímulos pontuais ao consumo, de fôlego curto e com resultados pouco eficazes, como a prática tem demonstrado. O momento é favorável a essa reorientação, pois as taxas de juros estão em queda, a política fiscal tem cumprido suas metas, o câmbio atingiu um patamar que era almejado pela indústria e o mercado de trabalho permanece aquecido.