Título: Crescer é possível
Autor: Nogueira Batista Jr., Paulo
Fonte: O Globo, 07/07/2012, Opinião, p. 7

Oque está acontecendo com a economia brasileira? Apesar de diversas medidas de estímulo adotadas pelo governo, a economia não dá sinais de reação. Nos dois últimos meses, os analistas do setor privado vêm revendo sempre para baixo as suas projeções de crescimento para este ano. É o que mostra o levantamento semanal realizado pelo Banco Central. A expectativa mediana para o crescimento do PIB em 2012 caiu para pouco mais de 2%; para a produção industrial a expectativa é de estagnação. A projeção do FMI, divulgada ontem, é de um crescimento de apenas 2,5% para o PIB brasileiro neste ano.

Uma hipótese, que parece plausível, é que a economia esteja vivendo, desde o ano passado, o esgotamento de um ciclo de consumo baseado na expansão do crédito. Há indicadores que parecem dar sustentação a essa hipótese. A desaceleração seria "endógena", pelo menos em parte, e não poderia ser explicada apenas pelo efeito de medidas restritivas adotadas no início de 2011 e por choques externos associados à crise na área do euro.

Parece claro, entretanto, que a combinação de políticas internas restritivas com fatores externos adversos contribuiu poderosamente para a desaceleração. No início do atual governo, predominava a preocupação com o aquecimento excessivo da economia e o risco de volta da inflação. Dentro e fora do governo, avaliava-se que era preciso agir rapidamente e dar uma "freada de arrumação".

A freada veio forte, com medidas de contenção simultâneas nos campos fiscal, monetário e creditício. À luz do que ocorreu depois, a freada talvez tenha sido excessiva. Em meados de 2011, ficou claro que a crise na área do euro era muito mais grave do que se supunha. E que o Brasil não ficaria imune às suas repercussões. O choque externo se somou às políticas restritivas para derrubar o dinamismo da economia.

Desde então, o quadro internacional não melhorou - antes o contrário. Nos meses recentes, a queda do ritmo de crescimento atingiu até mesmo os países mais fortes da Europa. O risco de uma desaceleração generalizada na área do euro se materializou, como observou o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Persiste um quadro de fragilidade financeira e fiscal em boa parte do continente europeu. Uma sucessão de cúpulas europeias ainda não conseguiu dissipar as dúvidas quanto à viabilidade da área do euro.

As demais economias desenvolvidas também não estão em grande forma. Nos EUA, a recuperação é lenta, e o desemprego continua elevado. Para o conjunto dos países desenvolvidos, o FMI prevê crescimento de apenas 1,4% em 2012.

As economias emergentes e em desenvolvimento também não escaparam da desaceleração. Não só o Brasil, mas também outros Brics vêm registrando queda do crescimento. É o caso notadamente da China e da Índia, que devem crescer 8% e 6,1% respectivamente em 2012, segundo o FMI. Embora elevadas, essas taxas de crescimento são sensivelmente inferiores às que se observavam até 2010. Na avaliação dos técnicos do FMI, há sinais de uma desaceleração global sincronizada.

Pode-se esperar alguma recuperação da economia brasileira? Apesar do quadro internacional desfavorável, provavelmente sim. Há sempre alguma defasagem entre as medidas de estímulo e seus efeitos sobre a atividade. A depreciação do real, a queda nas taxas de juro e outras decisões recentes do governo devem se fazer sentir no segundo semestre. A menos que ocorra alguma catástrofe na área do euro - cenário que, infelizmente, não pode ser descartado -, o nível de atividade deve se acelerar. Para 2013, as projeções são mais favoráveis. O FMI projeta crescimento de 4,6% para o Brasil; os analistas do setor privado, 4,2%.

Mesmo que essa recuperação se confirme, as perspectivas de médio e longo prazos continuam incertas. As bases de um crescimento vigoroso e sustentado ainda estão por ser lançadas. A despeito de uma recuperação gradual nos anos recentes, a taxa de investimento continua baixa no Brasil. Sem uma recuperação dos investimentos públicos e privados, é provável que o crescimento da economia brasileira continue a decepcionar.

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. é

economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: paulonbjr@hotmail.com Twitter: @paulonbjr

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 07/07/2012 03:56