Título: No melhor Ideb do Nordeste, até pais assistem aulas quando preciso
Autor: Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 08/07/2012, O País, p. 4

TERESINA . Durante o período de chuvas, os professores da Escola Municipal Laurindo de Castro, no povoado Poço, na Zona Rural de Teresina, saem das salas de aulas para ajudar os alunos a atravessar uma ponte sobre um riacho que fica coberto pelas águas. Na outra margem, uma Kombi as aguarda. Para chegar ao local, é preciso percorrer um emaranhado de estrada e mata. O colégio atende filhos de lavradores e de mulheres que trabalham como domésticas ou diaristas em residências a 38 quilômetros de distância, no Centro da capital piauiense.

A escola é bem cuidada, um oásis em contraste com o ambiente externo. No teto, mês passado, bandeirolas e balões enfeitavam o ambiente para as festas juninas. As salas são coloridas, decoradas com mensagens, desenhos, números e palavras separadas em sílabas.

A professora Ingrid Maria de Oliveira Vaz afirma que os 130 alunos são da Zona Rural, filhos de cortadores de cana-de-açúcar e de empregadas domésticas, quase todos sem escolaridade para ajudar as crianças no dever de casa. Mesmo assim, a Laurindo de Castro registrou, em 2009, um Ideb (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica) de 7,7, o maior do Nordeste.

O estudante Luiz Reis de Oliveira, de 7 anos, sai de casa às 6h30m, entra no ônibus escolar, e chega à escola apenas às 8h.

- Demora, mas aqui a gente aprende a ler, escrever e a contar. Eu gosto daqui - diz ele.

Ingrid conta que a escola tem muitos alunos de pais separados, de famílias desestruturadas, mas que dão muito apoio à formação dos filhos:

- Temos muitos alunos que moram com os avós, que são analfabetos, mas, mesmo analfabetos, pedem as tarefas, cobram e olham se as crianças estão respondendo às questões, apesar de não saberem do que tratam.

Praticamente não há rotatividade no corpo docente. A última mudança ocorreu há um ano e meio, quando uma adoeceu e se afastou do magistério. Os pais são participativos, mas, quando a direção os chama e eles não atendem, os professores ou a diretora vai até a casa.

- Se a família ou a criança está doente, vamos até lá saber o que está acontecendo - diz Ingrid.

O sinal de alerta para chamar os pais é quando surge algum aluno com problema grave de aprendizagem, de comportamento ou mais agressivo. Em muitos casos, os professores identificam que um desequilíbrio na família, como uma separação, e pedem que a mãe assista às aulas com a criança até que o transtorno passe, a fim de não atrapalhar o desempenho escolar. Também são oferecidas aulas de reforço ao aluno com dificuldades.

O diagnóstico imediato dos problemas e a solução rápida ajudam a explicar o sucesso. Quando percebem que o aluno está ficando para trás, professores continuam ministrando aulas para os demais, mas elaboram atividades separadamente para os estudantes em dificuldades. As avaliações são contínuas. Não se espera o resultado em provas no fim do mês para corrigir equívocos. No ano passado, apenas um aluno foi reprovado.

- Nosso segredo é a participação democrática. Todos os problemas são discutidos e resolvidos na mesinha que temos, com os professores e a diretora. A gente acredita no trabalho coletivo. Começamos com a educação dentro do ônibus escolar, na sala de aula, na hora da merenda - ensina a mestra.