Título: Uma derrota da oposição
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2009, Economia, p. 23

Com a retomada do crescimento, cai o argumento de que o governo Lula não teria competência para enfrentar uma forte crise

Vacarezza, líder do PT na Câmara: tucanos aumentavam impostos

O argumento de que os bons resultados na condução da política econômica do governo Lula nunca haviam passado por um teste de estresse ruíram. Com a divulgação do percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 1,9% no segundo trimestre, na comparação com os primeiros três meses do ano, o principal discurso da oposição caiu por terra, o que, entretanto, não diminuiu o tom das críticas ao governo.

O discurso da oposição é de que, apesar de positiva, a retomada do crescimento ainda está aquém da de outras economias em desenvolvimento, como a da China e a da Índia. E que o governo se aproveita de uma situação de estabilidade deixada pelas gestões passadas, que instituíram a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Proer ¿ programa de ajuda a bancos que salvou o sistema financeiro brasileiro na década de 1990. ¿O PT (Partido dos Trabalhadores) é um filho de pai rico que se aproveita da herança para gastar à toa¿, disse o líder do Democratas na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Em tom mais ameno, O PSDB manifestou insatisfação ao discurso otimista do governo na divulgação dos dados do PIB. ¿O movimento global de saída da crise, que vários países já estão alcançando, é uma boa notícia para o povo brasileiro, mas o Brasil ainda tem pouco a comemorar¿, disse a nota assinada pelo senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), presidente nacional do PSDB. Segundo ele, o governo tem feito comparações com países ricos. ¿A comparação correta deve ser (feita) com os emergentes, que estavam crescendo a 11%, 12% ao ano, e apenas desaceleraram¿, resumiu.

O governo discorda, acusando a oposição de agir contra os interesses nacionais. ¿Eles (oposição) deveriam pedir desculpas ao país, ao invés de criticar o que deu certo¿, rebateu o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Segundo contou, o governo levou o país a uma situação de estabilidade que nunca antes havia sido conseguida, na experiência recente. ¿Quando o país entrava em uma crise, o receituário dos tucanos para sair dela era aumentar impostos e subir juros, além de segurar os investimentos, que são os gastos do governo. O PT fez tudo diferente¿, contou.

Decisões

Opinião semelhante tem a cientista política Lúcia Marcês, professora da Universidade de Brasília (UnB), que acredita que oposição e imprensa têm dado pouco mérito às conquistas do governo. ¿Quando o presidente (Lula) pediu que o povo brasileiro gastasse, o povo obedeceu. E quem ganhou foi o Brasil, que conseguiu deixar para trás a crise¿, contou, para emendar: ¿Uma oposição leal não precisa ser contra o país, mas sim contra o que há de ruim nas decisões políticas de um governo¿.

Autor do livro Desafios para o Brasil ¿ como retomar o crescimento, o economista e doutor em ciências políticas João Ildebrando Bocchi acredita que há exageros de ambos os lados. ¿Este resultado de hoje é um feito a se comemorar, mas é evidente que o governo extrapolou no tom dos elogios.¿ E continuou: ¿Mas também há um grande exagero por parte da oposição, que tem criticado as medidas (desonerações e redução do esforço fiscal) que deram sustentação ao crescimento econômico¿.

Esse resultado de hoje é um feito a se comemorar, mas é evidente que o governo extrapolou no tom dos elogios¿

João Ildebrando Bocchi, economista e doutor em ciências políticas

Lula: melhor que os EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o desempenho da economia brasileira um ano depois do aprofundamento da crise financeira global, dizendo que o governo tomou as medidas no momento certo para evitar que o país sofresse como o restante do mundo. ¿Este país realmente estava mais preparado que todo o mundo desenvolvido para enfrentar a crise econômica, mais do que toda a Europa e mais do que os Estados Unidos¿, disse Lula em Pernambuco.

As declarações do presidente ocorreram horas depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovar que o Brasil saiu da recessão técnica. Para Lula, a economia está se recuperando porque o governo adotou medidas anticíclicas em vez de aumentar o superávit primário. Ele elogiou também a parcela da população que atendeu aos apelos do Executivo e continuou a consumir.

¿Graças ao povo brasileiro e, sobretudo à parte mais pobre deste país, a economia sobreviveu com o comércio crescendo praticamente durante 23 meses seguidos¿, disse. Por outro lado, Lula criticou aqueles que, segundo ele, entraram em ¿pânico¿ porque acreditaram mais nas manchetes de jornais. ¿Teve gente que desativou totalmente qualquer investimento, teve gente que deu férias coletivas no mês de dezembro, teve gente que deu férias coletivas no mês de janeiro¿, comentou.