Título: A dor e a delicia do encontro entre a oferta e a procura
Autor:
Fonte: O Globo, 08/07/2012, Economia, p. 30

Dor, prazer, hastes semiabertas, posições diferentes. Alguém imagina que esses termos possam estar num texto sobre macroeconomia? Pois estão e a façanha coube ao economista e professor Edmar Bacha, um dos pais dos mais emblemáticos planos de estabilização no Brasil - o Cruzado, nos anos 80, logo após a redemocratização, e o Real, que está completando 18 anos neste mês de julho.

O artigo, que O GLOBO publica com exclusividade, é uma volta de Bacha às fábulas. Em plena ditadura militar, ele cunhou o termo "Belíndia", em 1974, numa referência à desigualdade abissal do país, entre a Bélgica e a Índia. Dez anos depois, em 1984, ele escreveu "O Fim da Inflação no Reino de Lisarb", numa alusão ao Brasil escrito de trás para frente. Aliás, tudo naquele reino, vizinho da Belíndia, acontecia às avessas. Agora, Bacha recorre ao erotismo para falar do momento econômico.

E qual foi a inspiração para esse Kama Sutra que não ousa dizer o nome?

- A inspiração veio desse clima de Fla-Flu entre keynesianos e monetaristas, entre neoliberais e desenvolvimentistas, entre os partidários da oferta e os partidários da procura - explica ele.

No texto, recheado de gráficos - esses, sim, para iniciados -, Bacha lembra que esse duelo verbal e acadêmico acirrou-se muito no Brasil e no mundo pós-crise global de 2008.

De lá para cá, com o propósito de espantar a recessão dos dois lados do Atlântico, foram incontáveis os pacotes de ajuda financeira e cortes de juros e impostos mesmo nos países ditos mais liberais. Por sua vez, não faltam vozes que se levantem para defender o controle das contas públicas.

- O keynesianismo colocou a oferta deitada desde a Grande Depressão, nos anos 30. Já os monetaristas puseram a procura deitada pós-choque do petróleo, na década de 70.

Diante de tanta polêmica, o professor Bacha não hesitou e, apesar de considerar que posições radicais são excitantes, a melhor alternativa seria a busca pela harmonia. E explica:

- Fui buscar a resposta no budismo e, por isso, sugiro o caminho do meio - brinca o professor.