Título: Com Venezuela, bloco teve superávit no 1 semestre
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/07/2012, Economia, p. 25

No momento em que o Brasil força a entrada da Venezuela no Mercosul e abre, por isso, uma crise com o Uruguai, o papel econômico do bloco fica em xeque. Com a entrada da China - como defende a Argentina - ou do México - como ensaia o Brasil -, o bloco pode ser implodido? E, afinal, o Mercosul vem tendo um mau desempenho? Somente de janeiro a junho deste ano, os venezuelanos garantiram um superávit ao Brasil de US$ 1,75 bilhão, enquanto o saldo positivo brasileiro com o Mercosul foi de US$ 2,49 bilhões. Ou seja, até agora tem sido vantajoso ao grupo negociar com a Venezuela.

No caso dos mexicanos, depois das divergências em torno do regime automotivo, Dilma aguarda a visita do novo presidente, Enrique Peña Nieto, para falar sobre o aumento do intercâmbio bilateral com o Mercosul. Se pudesse, o governo brasileiro se acertaria sozinho com os mexicanos, que, somente em 2011, tiveram um fluxo comercial (soma de exportações com importações) com o Brasil de cerca de US$ 9 bilhões.

Ao mesmo tempo, o Uruguai voltou a defender a possibilidade de realizar, sozinho, acordos com outros parceiros. Há três dias, o vice-presidente uruguaio, Danilo Astori, adversário político do presidente José Mujica, disse que seu país só aceitou a Venezuela por pressão do Brasil. Em seguida, Mujica declarou que gostaria de firmar tratados bilaterais. Mas voltou atrás e se retratou.

Para o cientista político e professor titular de relações internacionais da Universidade de Brasília, Eduardo Viola, o Mercosul passa por uma situação de deterioração institucional. Os problemas, segundo ele, têm como responsável a Argentina, o primeiro sócio a propor exceções à Tarifa Externa Comum (TEC), usada no comércio com países que não fazem parte do bloco.

- A situação pode piorar com o ingresso da Venezuela, que é um ator desagregador, pior que a Argentina. Já o Uruguai está há muitos anos descontente. Há muitos fogos de artifício no Mercosul, mas sua efetividade vem diminui cada vez mais - diz Viola. (E.O.)