Título: Dilma dá R$ 23 bi à agricultura e promete 'virar o jogo' na indústria
Autor: Rorigues, Lino
Fonte: O Globo, 05/07/2012, Economia, p. 26

BRASÍLIA. Em evento de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o Brasil irá "virar o jogo" em relação à queda da produção industrial no Brasil. Durante a cerimônia, foram anunciados R$ 22,3 bilhões para crédito, seguro, assistência técnica, extensão rural, garantia de preços e comercialização de produtos da agricultura familiar. Em seu discurso, a presidente disse que as medidas servirão para "enfrentar a crise":

- Hoje, estamos fazendo e continuando uma política extremamente agressiva nessa área. Estamos comprando tratores, aqueles pequenininhos. Continuamos fazendo isso, com mais agressividade ainda para enfrentar essa crise.

Na terça-feira, o IBGE anunciou que a produção industrial de maio registrou recuo de 4,3% frente ao mesmo mês do ano passado. A queda registrada foi a nona seguida e atinge 17 dos 27 setores pesquisados.

Desde o início do governo Dilma Rousseff, mais de R$ 102 bilhões foram repassados à indústria em sete pacotes de medidas, com objetivo de estimular o crescimento do país. Quatro deles foram lançados este ano.

Ontem, no lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, foram anunciados mais R$ 18 bilhões para crédito de custeio e investimento à agricultura familiar. Outros R$ 4,3 bilhões chegarão aos agricultores familiares por meio de programas como os de assistência técnica e aquisição de alimentos. A taxa máxima de juros paga pelos agricultores passa de 4,5% para 4%. Além disso, foi ampliada a renda bruta anual para acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), de R$ 110 mil para R$ 160 mil.

Mantega brinca com críticos da política cambial

Ao comentar ontem o recuo da indústria em maio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o setor não foi o único a ser afetado pela crise global, que também atingiu outras economias emergentes. Segundo ele, os problemas financeiros na Europa não serão resolvidos a curto prazo porque "os europeus são lentos e só resolvem problemas à beira do precipício".

- A indústria está indo para baixo não só nos países europeus, mas no Brasil e na China também. Felizmente, somos (o Brasil) menos afetados - disse Mantega, durante evento com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Para o ministro, a crise atual já provocou o mesmo desarranjo na economia mundial do que a turbulência de 2008:

- Temos de ter a consciência que estamos enfrentando uma crise bastante grave, que não vai ser solucionada no curto prazo .

Apesar disso, o ministro afirmou que estaria havendo uma mudança de clima na produção industrial brasileira, e que os dados referentes a junho não "serão tão ruins". Segundo ele, setores como o de linha branca e automobilístico, que receberam incentivos fiscais do governo, já estão reagindo com aumento das vendas. Por isso, ele manteve sua previsão de crescimento anualizado do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3,5% e 4% no segundo semestre de 2012. A partir de 2013, prevê, seria possível retomar um novo ciclo de crescimento entre 4% e 5%.

Sobre as críticas à política cambial que o governo vem adotando para favorecer o setor industrial e as exportações, o ministro da Fazenda disse que não é possível agradar a todos. Segundo ele, 99% dos empresários reunidos ontem na Fiesp concordam com a política cambial:

- O outro 1% foi ao banheiro.

O ministro disse que a economia vai crescer 3,5% no segundo semestre, contra previsão de 2,2% em 2012 da RC Consultores e da Fiesp. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, aproveitou para pedir a prorrogação do prazo para o recolhimento de impostos da indústria.