Título: Brasileiros ainda sabem pouco sobre a água
Autor: Motta, Cláudio
Fonte: O Globo, 27/06/2012, Ciência, p. 28

Metade não controla uso e maioria desconhece principais consumidores, mostra pesquisa

A preocupação ambiental do brasileiro continua a escorrendo ralo abaixo. Pesquisa de opinião realizada pelo Ibope para o WWF-Brasil, com apoio do HSBC, mostra que quase metade (48%) das pessoas consome água com pouco controle, apesar de 68% afirmarem que o desperdício será o principal problema de abastecimento de água no futuro. O estudo, parte do "Programa Água para a Vida", revela que o brasileiro não sabe quem são os maiores consumidores de água no país. Apenas 16% indicaram, corretamente, a agricultura, contra 81% que citaram, erradamente, população, residências e indústrias.

A Agência Nacional de Águas (ANA), criada pelo governo federal em 2000, não é conhecida por 87% das pessoas. E os comitês gestores de bacias hidrográficas, por 84%. Apenas 1% aponta o desmatamento como uma das causas da falta de água. Para Glauco Kimura de Freitas, coordenador do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil, é preciso ensinar que água não nasce na torneira.

- É assustador constatar que as pessoas não conhecem a lei, não entendem a noção de bacia hidrográfica e sequer sabem quem é a agência reguladora - disse Freitas. - A água não respeita limites geopolíticos, não se limita a fronteiras, passa pela área rural, urbana, cidades e estados. Á água não nasce na torneira. A preservação da bacia hidrográfica é fundamental.

Foram ouvidas 2.002 pessoas em novembro de 2011 nos 26 estados da federação na pesquisa, que mostrou uma diminuição na disposição do brasileiro em pagar pela água. Quando perguntados se podiam dar 2 centavos por cada mil litros de água, 76% das pessoas responderam sim em 2006, contra 58% agora.

- Não é um novo imposto. O valor não vai para os cofres públicos, mas para os comitês de bacia, que reinvestem no próprio local. É como um condomínio cujo síndico cobra uma taxa para preservar o bem comum - explicou o ambientalista.

A pesquisa mostra, ainda, que 67% dos domicílios enfrentam algum tipo de problema no abastecimento. No Nordeste, a escassez constante afeta 29% das casas. Mesmo assim, o consumo médio diário por habitante no país (185 litros) é considerado mediano, próximo ao da Comunidade Europeia (200 litros).

Nas regiões secas, como o semiárido brasileiro, o consumo é menor (abaixo de 100 litros), porém mais alto do que o da África Subsaariana (abaixo de 50 litros).