Título: Belo Monte: pedida prisão de ativistas
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 27/06/2012, Economia, p. 23

Em inquérito, Polícia Civil do Pará acusa 11 manifestantes

BRASÍLIA . A Polícia Civil do Pará pediu ontem à Justiça a prisão preventiva de 11 manifestantes que participaram do evento Xingu+23 em protesto contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. As manifestações se deram na Vila de Santo Antônio, em Altamira (PA) entre os dias 13 e 17 deste mês. Segundo o "Movimento Xingu Vivo para Sempre", eles estão sendo acusados de danos, roubo, incêndio, perturbação da ordem pública e formação de quadrilha. Oito desses manifestantes irão prestar depoimentos à Justiça do Pará hoje.

Os acusados no inquérito são integrantes e assessores do Xingu Vivo, um padre que rezou missa durante o encontro, uma freira, um pescador que teve sua casa destruída, missionários indigenistas e um documentarista de São Paulo. Nesta semana, a área jurídica do movimento irá encaminhar uma denúncia à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a criminalização dos ativistas.

A acusação da polícia, de acordo com o movimento Xingu Vivo, é de que os manifestantes planejaram uma ação no escritório do consórcio Norte Energia. Segundo o advogado dos acusados e presidente da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, Marco Apolo Leão, no entanto, não existe, nos autos do processo, nenhuma imagem que comprove a acusação.

Os líderes indígenas e os diretores da Norte Energia, que é responsável pela obra da usina hidrelétrica de Belo Monte, têm reunião marcada para amanhã, dia 28, para discutirem a pauta de reivindicações elaborada pelos indígenas. A empresa deverá apresentar uma resposta aos pedidos do grupo das etnias arara, xikrin e juruna, que tomou conta de parte dos canteiros de obras na última sexta-feira, dia 22 de junho.

A maior parte das reivindicações dos cerca de 150 ocupantes do Sítio Pimental, na usina, dizem respeito ao cumprimento de condicionantes para a obra, determinados quando da liberação das licenças prévia e de instalação pelo governo. Entre elas, estão a demarcação de terras indígenas, a construção de estradas até as aldeias - em substituição às vias fluviais que não podem mais ser utilizadas -, e a distribuição de suprimentos para as aldeias que forem afetadas pela construção. Elas preveem, ainda, indenizações aos indígenas por perderem suas terras.

Os grupos indígenas também reivindicam melhores condições de infraestrutura para suas aldeias, tais como: casas de alvenaria, com banheiro interno e telhas na cobertura; energia, da forma como prevê o programa "Luz para Todos"; escolas equipadas com curso até o Ensino Médio; além de atendimento à saúde com a disponibilização de uma ambulância para emergências. Eles também pedem a instalação de orelhões e de torres de celular no local. Os xikrin, em especial, querem apoio para a criação e a manutenção em funcionamento da Associação Bebô Xikrin do Bacajá (ABEx).