Título: Merkel rejeita eurobônus enquanto estiver viva
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Fonte: O Globo, 27/06/2012, Economia, p. 21

Alemanha, Itália, França e Espanha se reúnem hoje para aparar arestas antes de cúpula. Conselho defende títulos comuns

TURBULÊNCIA GLOBAL

BERLIM, PARIS e RIO . Às vésperas da reunião de cúpula da União Europeia (UE), amanhã e sexta-feira, os eurobônus voltaram à pauta, citados em documento preparado pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Mas a chanceler alemã, Angela Merkel, já avisou que isso não ocorrerá "enquanto estiver viva". Hoje, tentando aparar as últimas arestas antes da cúpula, os líderes de Alemanha, Espanha, França e Itália se reúnem em Paris, já sob a sombra de um novo pedido de socorro, desta vez de Chipre. Mariano Rajoy, François Hollande e Mario Monti são favoráveis à emissão de eurobônus, que significaria o compartilhamento, por toda a zona do euro, do peso da dívida dos Estados.

- Não vejo um passivo total da dívida enquanto eu viver - disse Merkel, segundo fontes, em reunião a portas fechadas com parlamentares de sua coalizão.

Na véspera, a chanceler classificara a ideia de eurobônus de "economicamente errada e contraproducente".

Monti está disposto a debater até domingo

As discussões prometem. O premier italiano, Mario Monti, disse no Parlamento que está pronto para continuar negociando até a noite de domingo, se necessário, para fechar um acordo sobre medidas que acalmem os mercados.

"Em uma perspectiva de médio prazo, a emissão da dívida conjunta deve ser analisada como um passo a mais da união fiscal", afirmou Van Rompuy. Além dos eurobônus, a cúpula de Bruxelas deve discutir um pacote de crescimento, defendido pela França, de 130 bilhões, e propostas para alcançar uma maior união bancária e fiscal. Esta poderia incluir, segundo o texto de Van Rompuy, até um Tesouro comum a toda a zona do euro.

A França já anunciou que cortará em 1 bilhão os gastos previstos para este ano, além de congelar as despesas no período 2013-2016. O governo informou que serão afetados todas as áreas, com exceção de educação, justiça e MInistério do Interior. A França também reduziu sua projeção de crescimento para este ano, de 0,5% para 0,4%.

Chipre, o quinto país a pedir ajuda financeira da UE, sofreu um golpe ontem: o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que não vai mais aceitar os bônus do país como garantia - poucos dias antes de Chipre assumir a presidência rotativa do bloco. Hoje os ministros de Finanças da zona do euro farão uma teleconferência para discutir as solicitações de Espanha e Chipre.

Fontes disseram ontem à agência de notícias Reuters que Chipre pode precisar de até 10 bilhões, mais da metade de seu Produto Interno Bruto (PIB), de 17,3 bilhões. Isso significaria um montante de 10 mil por habitante.

Já a Espanha viu seu custo de financiamento quase triplicar. Ao leiloar ontem papéis de três e seis meses, o Tesouro espanhol teve de pagar aos investidores um retorno de 2,362% e 3,237%, respectivamente, três vezes mais que o registrado há um mês. Além disso, o governo informou que o déficit acumulado nos cinco primeiros meses está em 3,41% do PIB - quase o acordado com a UE para todo o ano, de 3,5%.

Em SP, dólar tem alta

de 0,26%, a R$ 2,072

Em um pregão de instabilidade causada pela expectativa em relação à cúpula europeia, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou praticamente estável ontem, em alta de 0,06%, aos 53.836 pontos, pelo Ibovespa, seu índice de referência. Já o dólar comercial avançou 0,29%, a R$ 2,072. O Banco Central confirmou que fará hoje um novo leilão de swap cambial, operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro, num total de US$ 3 bilhões. A Petrobras teve leve pequena recuperação, depois de desabar quase 9% na véspera devido ao descontentamento do mercado com o reajuste dos preços da gasolina. Petrobras PN subiu 1,12%. Em Nova York, o índice Dow Jones avançou 0,26%, e Nasdaq, 0,63%.