Título: Não quero meu nome por causa dos depósitos
Autor: Gois, Chico de; Souza, André de
Fonte: O Globo, 27/06/2012, O País, p. 9

Gravação mostra que Cachoeira pediu para não ser identificado no contrato de compra da casa do governador de Goiás

BRASÍLIA. Uma gravação feita pela Polícia Federal e a declaração do arquiteto Alexandre Milhomem na CPI do Cachoeira, ontem, atestando que a mulher de Carlinhos Cachoeira gastou R$ 500 mil para decorar a casa onde morava, reforçaram as suspeitas de que o imóvel que era do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), teria sido mesmo comprado pelo contraventor.

Na conversa gravada com autorização judicial em 5 de maio do ano passado, Cachoeira diz para a namorada dele, Andressa Mendonça, que mandou rasgar o contrato que ia sair em seu nome para não dar problema.

Cachoeira disse ainda que fariam o negócio de outra maneira, usando o nome de Deca, André Teixeira Jorge, considerado pela PF como laranja do bicheiro - o nome dele aparece em vários saques feitos na conta da Alberto & Pantoja, uma empresa que faria parte do esquema do bicheiro. O contrato de venda da casa de Perillo acabou sendo assinado com o empresário Walter Paulo. A versão de Perillo, apresentada inclusiva na CPI, é que vendeu a casa a este empresário.

Cachoeira foi preso na casa durante a Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro deste ano.

Na conversa, Andressa pergunta ao namorado se o ex-cunhado dele, Adriano Aprígio, sabia da compra da casa. Cachoeira responde:

- Uai, deve saber, uai. Ele pediu... a irmã deve ter falado - diz o contraventor, em referência à ex-mulher dele Adriana Aprígio.

- Não, a irmã deve ter falado não. Ele dá detalhes aqui no seu email sobre o pagamento e o documento - informa Andressa.

- Não, é porque eu mandei tirar... Depois te explico pessoalmente. Não quero meu nome não, por causa dos depósitos que foram feitos, entendeu? Eu tinha botado meu nome. E aí saiu de uma conta, e eu pedi para passar no nome do Deca, da empresa.

O pagamento pela compra da casa ocorreu com três cheques, no valor total de R$ 1,4 milhão. Eles foram emitidos pela confecção Excitant, de um sobrinho de Cachoeira, e depositados na conta de Marconi entre março e maio de 2011.

- Passar o quê? - quer saber Andressa.

- Passar o contrato, que eu tenho para rasgar urgentemente o contrato que eu tinha no meu nome. Não posso ter vínculo daquela conta com esse contrato, entendeu? - explica Carlinhos.

- Contrato de compra cê fala?- insiste a namorada.

- Exatamente, estava no meu nome. E o dinheiro que tava pagando vinha de uma conta, entendeu?

- Entendi. Mas e quando você for escriturar? Porque eu quero que você passe ela no meu nome, como você vai fazer? - pergunta Andressa, preocupada.

- Escritura é outra coisa, tá? Eu pedi para rasgar aquele contrato meu lá para pôr no nome da empresa que o Deca tem - diz Cachoeira, sem especificar a que empresa se referia.

A escritura do imóvel foi feita em um cartório de Trindade, em 13 de julho de 2011, em nome da Mestra Administração, que tem Walter Paulo como administrador e Écio Antonio Ribeiro como sócio.

Na sessão de ontem da CPI, o arquiteto Alexandre Milhomem disse que foi contatado por Andressa em fevereiro do ano passado. Ele negou que tenha feito uma reforma no imóvel, e informou que cuidou da decoração, como compra de sofás e troca de papel de parede. Ao ser perguntado quanto Andressa gastou com a decoração, ele estimou em R$ 500 mil.

- A cliente tem um bom gosto excessivo. Ela gosta de tudo do melhor e acredito que tenha sido mais de 500 mil (gastos com a decoração da casa). Cada um investe no que pode- justificou o arquiteto.

Petistas disseram na CPI não acreditar que alguém gastaria esse dinheiro para morar num imóvel emprestado, como tem dito Walter Paulo.

Para o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), a casa foi comprada por Cachoeira, ao contrário do que disse Perillo.

- Fica evidenciado que quem contratou o arquiteto foi o senhor Carlos Cachoeira para decorar a casa que lhe pertencia, que ele havia comprado do governador Marconi Perillo.

Questionado se Perillo mentiu, Odair Cunha respondeu:

- Com certeza. Está evidente de que a história foi montada. A história da casa é para negar a relação do governador com o senhor Carlos Cachoeira.