Título: Produtos verdes criam mercado e mais valor
Autor: Oswald, Vivian; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 01/07/2012, Editorial, p. 41

Exigência crescente dos clientes, sustentabilidade cria vantagens a exportadores, que temem barreiras

Exigência dos consumidores dos países desenvolvidos e, ao mesmo tempo, mais um pretexto para a criação de barreiras técnicas às importações, a sustentabilidade já faz parte do cotidiano dos exportadores brasileiros, em firmas de todos os tamanhos. Mas ao tornar produtos e serviços "verdes", empresas descobriram outras vantagens, além de ajudar a engordar os balanços ambientais: um mercado quase blindado a crises, maior fidelidade dos clientes e preços mais estáveis, mesmo na turbulência global.

Desmentindo o senso comum, a produtividade de cana-de-açúcar orgânica da Native, do Grupo Balbo, do interior de São Paulo, é 20% maior que a tradicional, que pode ter agrotóxicos. O grupo vende para mais de 60 países e planeja elevar a colheita anual de 80 mil para 160 mil toneladas de cana até 2017.

- Além da questão ecológica, o produto certificado tem um cliente muito mais fiel, uma distribuição mais igual dos lucros entre as etapas de produção e preços que variam muito menos que as commodities - disse o diretor comercial Leontino Balbo, que também produz sucos e barrinhas de cereais.

O presidente da Agência de Promoção das Exportações (Apex), Maurício Borges, disse que está sendo realizado um mapeamento de empresas que investem em sustentabilidade. A agência já constatou que esse procedimento já é encontrado com mais frequência nos setores de móveis, calçados, alimentos, têxteis e confecções:

- Produtos que vão danificar o meio ambiente não entram mais na União Europeia e nos Estados Unidos - ressaltou.

No setor têxtil, por exemplo, há empresas que investem em tintas não poluentes. Em curtumes, a preocupação é com o tratamento do couro. No setor moveleiro, que gera resíduos nocivos para o meio ambiente, os brasileiros oferecem produtos feitos de madeira de área reflorestada.

Na Paraíba, uma cooperativa de produtores investe em tecnologia limpa, do plantio de algodão colorido e orgânico, sem a adição de agroquímicos, à confecção do tecido. De acordo com Maysa Gadelha, diretora-presidente da Natural Fashion, marca da cooperativa, esse procedimento atrai o interesse dos consumidores dos países desenvolvidos.

- A crise financeira reduziu nossas vendas para a Europa e o Japão. Exportávamos muito até 2008. Mas continuamos vendendo para esses países.

A fabricante de móveis Ornare desde que foi criada, em 1986, garante se preocupar com a sustentabilidade, diz Ester Schattan, sócia da empresa.

- Para nós o importante é ser social e financeiramente sustentável. De nada adiante ter madeira e processos ambientalmente corretos, se não registramos os empregados ou não tivermos qualquer atividade social - afirma ela, acrescentando que a empresa oferece aos clientes a opção destinar as peças trocadas para instituições de caridade gratuitamente, entre outras atividades.

Ela, que há sete anos tem loja em Miami, afirma que a diferença do consumidor é nítida, pois lá a primeira pergunta é sobre sustentabilidade do produto:

- Aqui quase nunca nos perguntam isso - disse.