Título: Dilma: crise preocupa, mas não amedronta
Autor: Miranda, Gustavo; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 28/06/2012, Economia, p. 22

Para a presidente, situação atual é mais grave que a de 2009 e não se pode "brincar à beira do precipício"

A PRESIDENTE Dilma ao lado do senador Eduardo Braga descendo a rampa para o anúncio do pacote

turbulência global

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff disse ontem, no lançamento do pacote de compras governamentais para estimular a economia, que a crise internacional é mais grave do que em 2009 e preocupa o governo, mas não o amedronta. Ela afirmou que tomará as medidas necessárias para proteger a produção nacional e os empregos no país, mas ressaltou que o governo manterá o rigor nas contas públicas, sem "aventuras fiscais".

- Nós acreditamos que essa combinação entre crise bancária, crise da dívida bancária e crise da dívida soberana dos países é uma situação mais complexa do que aquela que levou à situação do Lehman Brothers. Não fazendo comparação entre as duas, mas o que parece é que a crise do Euro tem uma duração mais longa, sendo mais crônica e necessitando de mais medidas para ser solucionada - disse a presidente, referindo-se à quebra do banco americano que detonou a crise de 2009.

"Mundo vive processo de desesperança"

Diante de uma plateia de ministros, prefeitos e empresários, Dilma abriu o discurso falando sobre a crise, que classificou de "conjuntura econômica conturbada". Ela referiu-se ao euro como "um projeto incompleto, porque ainda falta a união fiscal, bancária e financeira da região" e lembrou que os governos têm encontrado dificuldades para chegar a um consenso e adotar políticas para superar a crise e recuperar a confiança dos mercados e da população.

- Esse cenário nos preocupa, mas não nos amedronta. É importante ter consciência dele para evitar aventuras fiscais. Nenhum país do mundo hoje se permite uma política fiscal que não leve em conta sobretudo investimentos. Aventura fiscal é a gente se comportar como se não estivesse acontecendo nada. Nós não nos amedrontamos, mas não podemos fingir que nada está acontecendo.

Segundo Dilma, o programa de compras governamentais, além de estimular a economia, vai atender às necessidades da população, com a melhoria dos serviços públicos. Para ela, medidas dessa natureza são necessárias num momento em que "o mundo sofre um processo de recessão, desesperança e desemprego".

- Considero que a política de compras governamentais, neste momento, é sobretudo afirmação de que temos mecanismos para enfrentar a crise, e vamos usá-los sem nenhuma restrição .

Dilma disse ainda que o governo brasileiro está colaborando com a zona do euro, aumentando a participação no Fundo Monetário Internacional (FMI), que é de US$ 20 bilhões, em mais US$ 10 bilhões. Hoje, segundo a presidente, o Brasil está numa situação diferente dos europeus.

- Não podemos ter a soberba de achar que podemos brincar à beira do precipício ou tomar medidas que tomaríamos em tempos normais. Por isso, o Brasil vai tomar as medidas necessárias para proteger a produção e os empregos no nosso país.