Título: Petrobras sob chuva de críticas em NY
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 28/06/2012, Economia, p. 19

Em reunião com a diretoria, investidores dizem até que plano de negócios está fora de controle

Correspondente

NOVA YORK. Investidores internacionais submeteram ontem a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e quatro diretores da empresa a uma saraivada de 14 perguntas reveladoras das incertezas geradas pelo novo plano de investimentos da empresa e pelo baixo reajuste dos preços da gasolina e do óleo diesel no Brasil, que continuam defasados em relação ao mercado internacional. Em reunião em Nova York para apresentar o novo programa, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, admitiu que, se a paridade com os preços internacionais não for atingida, os planos da empresa terão que ser ajustados.

A reunião foi, em sua primeira parte, que durou 90 minutos, um road show tradicional, com Graça e os executivos se revezando na apresentação do plano de negócios. Quando a sessão foi aberta a perguntas dos cerca de 60 investidores presentes a um salão de hotel em Manhattan, o clima saiu do torpor para uma sucessão de perguntas duras, muitas vezes com direito a réplica e tréplica, que se estendeu por mais de uma hora.

O reajuste dos preços da gasolina (7,83%) e do diesel (3,94%), que entrou em vigor na segunda-feira, decepcionou o mercado. Os investidores se mostram preocupados não apenas com a defasagem dos preços, que é de 7,5% no caso da gasolina e de 18,6% para o diesel, mas com a regulamentação que impõe a produção de plataformas e navios no Brasil e com outros pontos que veem como intervenção do governo. E quiseram saber até o que tira sono dos diretores da Petrobras.

- O corte de custo - respondeu Graça.

Douglas Thomas, da Jet Investment Research, disse que "uma parte significativa do plano de negócios" parecia estar fora do controle da diretoria. Ele perguntou que garantias poderiam ser dadas aos minoritários. Graça respondeu que o plano foi aprovado pelo conselho, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e que acredita que não haverá problema para cumpri-lo:

- Amadurecemos muito desde o primeiro plano feito após a descoberta do pré-sal, em 2006.

Conteúdo local e defasagem de preços estão entre principais questionamentos

Douglas Thomas elogiou a disposição da diretoria da empresa para fazer um mea-culpa, mas não ficou satisfeito com as respostas.

- Há muitas perguntas sem resposta também em relação ao conteúdo local, não sabemos quantos desses atrasos são causados pelas regras de conteúdo local. Os investidores perderam a confiança na capacidade da empresa de dar retorno significativo para seus acionistas - disse Thomas, em entrevista ao fim da sessão.

Pedro Medeiros, representante do Citigroup, questionou sobre a paridade de preços. Barbassa disse que a empresa não vai botar em risco o grau de investimento, obtido junto às agências de classificação de risco. Nesse momento, Graça interveio, como fez diversas vezes durante a reunião, passando orientações em português aos diretores ou complementando suas respostas.

- A paridade de preços é importante, é uma das condições básicas do plano de negócios, mas não é uma variável isolada que deve ser avaliada por si mesma - disse Graça.

O especialista em petróleo Christopher Garman, da consultoria Eurasia, de Washington, disse que há uma percepção clara do papel da Petrobras para as políticas do governo, por meio das regras de conteúdo local, que aumentaria os custos, e também de sua utilização para a política anticíclica, como em 2008 e 2009.

- A trajetória da Petrobras é preocupante, a empresa está sendo esticada de uma forma que reduz o retorno dos investimentos - disse ele.

Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs), espécie de recibos de ações da estatal, estão caindo desde segunda-feira. Ontem, os recibos das preferenciais (PN, sem direito a voto) recuaram 2% e das ordinárias (ON, com voto), 1,67%.

As três coisas que os investidores esperavam eram uma projeção de produção de petróleo mais realista do que a apresentada no fim da gestão de José Sergio Gabrielli, o relaxamento da exigência de conteúdo local e um reajuste maior para gasolina e diesel. Das três, apenas a primeira foi concedida, e Graça usou dezenas de vezes a palavra "realista" para enfatizar este ponto.

- A nova diretoria entregou uma projeção de produção mais realista, mais crível, sem redução do volume de programação de investimentos. O governo está preocupado com a redução dos investimentos públicos e privados, então não acredito que o governo vá ceder neste ponto.