Título: Tropeço de Eike
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 28/06/2012, Economia, p. 19

Empresas "X" perdem R$ 8,4 bi na Bolsa após redução na previsão de produção de petróleo

Uma crise de confiança dos investidores nas empresas do grupo EBX, do bilionário Eike Batista, derrubou ontem as ações das sete companhias "X" - letra com a qual o empresário batiza seus negócios - na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No maior revés que o empresário já sofreu no mercado brasileiro, suas empresas perderam somadas, em apenas uma tacada, R$ 8,37 bilhões de valor de mercado.

O próprio empresário viu sua fortuna em Bolsa encolher aproximadamente R$ 5 bilhões, para R$ 22 bilhões, com investidores se indagando sobre a capacidade das empresas do Grupo EBX, basicamente pré-operacionais, realmente produzirem o que prometem.

O gatilho foi a redução das estimativas de produção da OGX Petróleo, a maior companhia do empresário, para 5 mil barris de óleo diários em cada um dos dois poços do campo de Tubarão Azul (Waimea), na Bacia de Campos. O número é um terço do originalmente previsto pela companhia, de 15 mil a 20 mil barris por dia. Com termos como "desapontamento" e "incertezas", investidores fugiram das ações da petroleira, que chegaram a derreter quase 30% na Bolsa, antes de fechar num tombo de 25,32%, a R$ 6,25 ontem, arrastando o Ibovespa, principal índice da Bolsa, para uma queda de 1,35%, aos 53.108 pontos, na contramão do mundo. Foi a maior perda do papel desde que foi lançado, em junho de 2008.

Segundo o banco de investimentos JPMorgan, a redução da capacidade de produção cria uma "incerteza muito grande sobre o potencial de recuperação de óleo da companhia, assim como o potencial máximo de produção da empresa". O BofA Merrill Lynch disse que o resultado foi "decepcionante" e rebaixou a classificação do preço das ações da OGX de "neutro" para " underperform " (desempenho abaixo do esperado), que na prática significa recomendação de venda dos papéis. E reduziu a previsão de preço para a ação de R$ 19,50 para R$ 7,30 daqui a 12 meses.

"O risco de a OGX quebrar é zero", diz empresário

"Embora ainda seja um nível absoluto bom de produção, é abaixo do menor nível que foi traçado pela companhia. Com grande desapontamento vemos que isso deve afetar por muito tempo a OGX", disse o banco.

- O mercado gosta de colocar o Eike no céu ou no inferno. Talvez por culpa dele, que se expõe demais. Mas ele é um empresário como outros. Colocar uma empresa de petróleo em operação é muito difícil. E o mercado acaba exagerando para mais e para menos - disse Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos.

"O tombo das ações da OGX também contaminou as companhias "X", com investidores se indagando se elas também não estariam com números "inflados". Fecharam em queda MMX Mineração (6,94%), MPX Energia (7,69%), OSX Estaleiro (12,57%), PortX (6,77%) e CCX Carvão (3,92%). No mercado de câmbio, o dólar avançou 0,28%, para R$ 2,078, após um dia de especulações e dois leilões do Banco Central.

Com as perdas, Eike caiu da 14 posição para a 21 posição no ranking da Bloomberg News das pessoas mais ricas do mundo. Em teleconferência em inglês com investidores, a maioria de estrangeiros, ele explicou que um dos motivos seria a existência de uma fratura entre os dois poços de Tubarão Azul, o que poderia "ter risco".

- Vamos fazer uma produção responsável e reduzir a vazão para 5 mil barris de óleo - disse Eike, acrescentando que o projeto ainda é "muito viável" e que a empresa espera ter uma produção de 250 mil barris de petróleo por dia: - O risco de a OGX quebrar é zero.