Título: Premier britânico admite plebiscito sobre permanência na União Europeia
Autor:
Fonte: O Globo, 02/07/2012, Economia, p. 18

Cameron afirma, porém, que deixar o bloco "não seria interessante para o país"

DAVID CAMERON: "Como vamos conseguir que o povo esteja conosco nesta jornada tão complicada?"

Mark Richards/AFP

TURBULÊNCIA GLOBAL

LONDRES e NAVACERRADA, Espanha. Pela primeira vez, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou estar disposto a convocar um plebiscito sobre a permanência do país na União Europeia. Em artigo publicado ontem no "The Sunday Telegraph", o premier não deixou claro quando seria a votação nem quais seriam as opções dos cidadãos. Trata-se de uma mudança de postura de Cameron, que sempre se opôs a propor à população decidir entre permanecer ou abandonar a UE.

No artigo, Cameron reconhece que deixar o bloco "não seria interessante para o país", mas debate se terá que convocar um plebiscito ou decidir o assunto nas urnas: "Como vamos conseguir que o povo britânico esteja conosco nesta jornada tão complicada?" E questionou qual seria o ponto de equilíbrio entre aceitar a situação atual ou renunciar a tudo. Apesar do possível plebiscito, o mais provável é que Cameron busque vias "mais flexíveis" na UE - que passa por manter o vínculo econômico, mas se distanciando da integração política.

O artigo de Cameron mostra que, apesar de reconhecer a importância da Europa para economia, democracia e influência de seu país, é hora de repensar a relação do Reino Unido com a UE. Segundo o primeiro-ministro, somente após o país responder a questões fundamentais (o que o país realmente quer, o que tem agora e o melhor caminho para obter o que é melhor para o Reino Unido), é que se pode pensar em referendo.

Economia espanhola encolhe mais no segundo trimestre

Ainda que os mais radicais queiram forçar a saída da UE e fazer o Reino Unido se aproximar dos emergentes, os mais pragmáticos, segundo publicou o jornal "El País" visam a manter o país no bloco, mas reduzindo a integração e recusando perdas de soberania. O problema é que até Cameron - que admite que o euro é vital para os britânicos - já insistira que a saída à crise passa por uma maior integração fiscal na zona do euro, o que exige integração política.

Segundo analistas, se o Reino Unido deixar a UE, haverá consequências até na perda de influência global. Além disso, de acordo com a reportagem do "El País", especialistas acreditam que seria inviável sair da UE para se juntar ao Espaço Econômico Europeu junto com Noruega, Liechtenstein e Islândia ou negociar um acordo bilateral com a própria UE ou se integrar à zona livre do comércio com os EUA.

As declarações de Cameron são mais um capítulo da crise da zona do euro, cada vez mais longe de um desfecho. Na Espanha - que pediu até 100 bilhões para recapitalizar bancos em pior situação - a economia encolheu ainda mais no segundo trimestre de 2012, mas deve se estabilizar no restante do ano, enquanto o governo continua realizando reformas estruturais e medidas de austeridade orçamentária, afirmou ontem o ministro da Economia, Luis de Guindos.

- O governo espanhol está comprometido com a austeridade, com uma difícil correção orçamentária, e com reformas econômicas que são essenciais ao crescimento. É um processo que precisa continuar.

O PIB espanhol caiu 0,3% no primeiro trimestre ante o período anterior. O governo espera que a economia recue até 1,7% em 2012, mas especialistas alertam que a austeridade pode piorar a retração.