Título: Incontestável
Autor: Teixeira, Carlos Alberto
Fonte: O Globo, 02/07/2012, Rio, p. 11

Beleza dá ao Rio título inédito da Unesco, mas cidade terá que preservar a paisagem

Carlos Alberto Teixeira, Renata Leite Thais Britto e Thamine Leta

PATRIMÔNIO MUNDIAL

V aleu a pena esperar. Depois de aguardar por uma década, o Rio se tornou ontem a primeira cidade do mundo a receber o título de Patrimônio Mundial como paisagem cultural, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em decisão unânime, em São Petersburgo, na Rússia, a Unesco anunciou a honraria que vem contribuir para a boa fase da cidade. A conquista, porém, proporciona desafios. A partir de agora, os locais que justificaram o título - o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo e a Praia de Copacabana, entre outros - deverão ter sua ambiência preservada.

A primeira candidatura do Rio a patrimônio mundial foi apresentada em 2002, mas não foi adiante. Em setembro de 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em parceria com o governo estadual, a prefeitura, a Fundação Roberto Marinho e a Associação de Empreendedores Amigos da Unesco, entregou à organização o dossiê completo da intenção do Rio, justificando o valor universal da cidade em função da interação entre a beleza natural e seus moradores. Após o anúncio do resultado, a presidente Dilma Rousseff parabenizou os cariocas pela conquista. Em nota, ela considerou que "o reconhecimento da Cidade Maravilhosa como Patrimônio Mundial é motivo de orgulho para todo o Brasil e um estímulo para que a cidade do Rio de Janeiro prossiga em sua trajetória de revitalização e crescimento". Na mensagem, a presidente destacou ainda que "o Rio encanta a todos que o visitam" e que "o título chega num momento em que o Rio mostra ter competência e capacidade de gestão para sediar importantes eventos nacionais e internacionais", numa referência à Rio+20, à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. Dilma telefonou para o governador Sérgio Cabral e para o prefeito Eduardo Paes para parabenizá-los.

Mais preservação para cartões-postais

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que apresentou em português a candidatura do Rio durante a sessão realizada pela Unesco com a participação dos 21 países que integram o comitê, também ressaltou a responsabilidade da cidade e do Brasil em relação ao título. Segundo ela, a partir de agora, o Iphan terá de enviar relatórios frequentes à Unesco:

- Todos os locais mencionados na proposta de candidatura passarão a ser acompanhados pela Unesco e nós vamos apresentar relatórios dos trabalhos que forem feitos. O compromisso de manter isso é muito importante. E nós vamos honrar esse compromisso com a Unesco.

Ana acredita que o Rio ganhou o título não apenas pela paisagem, mas também pela forte relação entre a cidade e seus moradores:

- É uma relação desenvolvida com a natureza, incorporar um modo de vida na rotina que só o Rio tem.

De acordo com o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, os locais que embasaram a conquista do Rio terão que ser preservados. Caso contrário, a cidade pode perder o título. Para ele, preencheu-se uma lacuna na listagem do Patrimônio Mundial:

- É um reconhecimento muito importante. Se observarmos que a lista do Patrimônio Mundial representa o país, então faltava nela o Rio, que representa a imagem mais difundida do patrimônio brasileiro no mundo.

O presidente do Iphan também destacou a importância das políticas públicas neste momento para que a cidade mantenha a conquista.

- Temos que conseguir construir uma política pública que harmonize com as políticas que são de natureza setorial: política de habitação, de meio ambiente, etc. Pensaremos numa política transversal que consiga realmente responder aos desafios de fazer a gestão de um território.

País tem 19 bens naturais e culturais

Jurema Machado, coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, acompanhou todas as tentativas do Rio de conquistar o título. Para ela, a cidade ainda tem muito a fazer, como despoluir a Baía de Guanabara, reduzir a ocupação de áreas verdes e recuperar áreas degradadas. No entanto, ela reconhece a cidade como excepcional:

- O Rio tem condições geológicas marcantes e sua ocupação, historicamente, dialogou de forma harmônica e criativa com essas características naturais. Os jardins de Burle Marx, no Flamengo, e o calçadão de Copacabana, que remete às formas das ondas do mar, são exemplos disso. A cidade, às vezes, se rende à natureza, e, por outras, interfere nela, criando uma nova natureza.

Além da paisagem cultural do Rio, o Brasil tem outros 18 bens culturais e naturais na lista dos 911 reconhecidos pela Unesco. São eles: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto, em Minas Gerais (1980); Centro Histórico de Olinda, em Pernambuco (1982); Ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul (1983); Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, em Minas (1985); Centro Histórico de Salvador, na Bahia (1985); Conjunto Urbanístico de Brasília, no Distrito Federal (1987); Centro Histórico de São Luís, Maranhão (1997); Centro Histórico de Diamantina, em Minas (1999); Centro Histórico de Goiás, em Goiás (2001); Praça de São Francisco, em São Cristóvão, em Sergipe (2010).

Já os bens naturais são: Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná (1986); Costa do Descobrimento, na Bahia e no Espírito Santo (1997); Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí (1998); Reserva Mata Atlântica, em São Paulo e Paraná (1999); Parque Nacional do Jaú, no Amazonas (2000); Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2000); Reservas do Cerrado; Parque Nacional dos Veadeiros e das Emas, em Goiás (2001); e Parque Nacional de Fernando de Noronha, em Pernambuco (2001).