Título: Dirigente da ALN admite ter matado companheiro
Autor: Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 02/07/2012, O País, p. 4

Márcio Toledo foi morto em 1971, aos 26 anos

Um dos principais personagens da luta armada contra a ditadura militar confessou ter participado pessoalmente da execução de um companheiro - um integrante da chamada "coordenação nacional" da Ação Libertadora Nacional (ALN).

A confissão foi feita durante o programa Globo News Dossiê (a entrevista completa, que foi ar, será reprisada amanhã, às 11h05m, na Globo News). O autor da declaração: Carlos Eugênio Paz, o Clemente, comandante militar da Ação Libertadora Nacional, organização criada por Carlos Marighella para combater, com armas, o regime militar.

Primeiro, Carlos Eugênio Paz falou genericamente sobre a decisão "colegiada". Depois, ao ser perguntado pela terceira vez se tinha participado diretamente da execução, respondeu:

- É uma informação que até hoje não dei. A verdade é que não dei porque ninguém teve esta atitude de me perguntar diretamente. Participei, sim, da ação. Um comando de quatro companheiros participou. Não fui sozinho. Os outros três estão mortos. Era decisão de organização.

Ao quebrar um voto de silêncio que deveria durar até a morte, Carlos Eugenio Paz diz que quer dar o exemplo nestes tempos de Comissão da Verdade: se um ex-guerrilheiro confessa participação num ato "nada glorioso", militares envolvidos em atos violentos deveriam, também, relatar o que ocorreu nos "porões":

A confissão do ex-comandante da ALN significa que uma cena ocorrida no dia 23 de março de 1971, na rua Caçapava, na Consolação, em São Paulo, ganhou um desfecho, 41 anos depois. Naquele dia, um comando da ALN formou uma expedição para executar a tiros o militante Márcio Leite de Toledo. Ex-estudante de sociologia de 26 anos, Toledo tinha sido enviado a Cuba para treinar guerrilha. Voltou, clandestino, ao Brasil.

A volta coincidiu com a morte de dirigentes da ALN, capturados pelos órgãos de segurança. Márcio tinha dúvidas sobre se a tática de luta da ALN era correta. Resultado: reunido, o comando da ALN decidiu que Toledo passara a ser um perigo. Se desertasse, levaria consigo todos os segredos sobre as táticas de luta, identidade dos militantes e planos da ALN.

Um encontro foi marcado na rua Caçapava. Quando chegou ao local, Toledo foi surpreendido pelo comando da ALN - que abriu fogo contra ele. Panfletos deixados no local diziam que a ALN, "uma organização revolucionária em guerra declarada, não pode permitir uma defecção desse grau em suas fileiras".

*especial para O GLOBO