Título: Alternativa eólica
Autor: Cláudio Campos, Luiz
Fonte: O Globo, 16/07/2012, Opinião, p. 7

Omercado de energia renovável nacional expande e encolhe conforme as mudanças de políticas públicas, tecnologias e incentivos financeiros. No Brasil, os últimos meses foram de importantes movimentos no setor. No terceiro trimestre de 2011, quatro leilões de energia ofereceram oportunidades para remodelar o mercado de eletricidade do país.

A energia eólica atraiu mais atenção quando se verificou que, pela primeira vez, seu preço ficou abaixo do da eletricidade gerada pelo gás natural. Assim, o setor de eólica garantiu contratos de compra de energia para 78 projetos, totalizando 1.929 MW nos leilões - cerca de metade da capacidade total disponível -, que devem começar a operar em 2014. Outro leilão realizado em dezembro abriu concessão de contratos de 20 anos para usinas de energia eólica, biomassa e gás natural, e de 30 anos para usinas hidrelétricas. O pregão atraiu registro de 377 projetos, totalizando capacidade instalada de 24,3 GW, dos quais 79%, com capacidade total de 7,5 GW, relacionados à eólica.

Os leilões de 2011 iniciaram o processo competitivo entre fontes, e os investidores de eólicas demonstraram um interesse surpreendente pelos projetos. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica, a capacidade eólica brasileira deve crescer 600% até 2014, para mais de 7GW, em comparação a 1 GW no fim de 2010. Para isso, uma série de desafios se apresenta.

Os leilões criaram concorrência no setor de energia elétrica, além de uma forte carteira de projetos com ênfase especialmente na eólica. No entanto, a Associação Brasileira de Energia Eólica alertou que as menores margens de retorno podem tornar os projetos vulneráveis a possíveis complicações durante a construção. Por isso, o planejamento futuro de eletricidade no Brasil precisa refletir os resultados positivos dos leilões para garantir a confiança dos investidores no longo prazo, e os investidores estarão atentos à capacidade do governo de apresentar o cenário político necessário para garantir o investimento.

Nesse contexto, o crédito representa um importante vetor de crescimento. Estima-se que os projetos outorgados tenham necessidade de financiamento de R$ 10,1 bilhões, e os que já estão em construção de R$ 2,4 bilhões, fazendo com que a demanda por crédito no curto prazo chegue a R$ 12,5 bilhões. Os parques em operação - teoricamente com financiamento equacionado - representam 20% de toda a necessidade de crédito desses primeiros anos de desenvolvimento da indústria.

O mercado de dívidas nacional ainda está em um grau inferior de desenvolvimento em relação às economias mais maduras. O desenvolvimento de mercados internacionais se deu com distintas fontes de financiamento, nas fontes bancárias tradicionais ou mesmo no mercado de capitais. No Brasil, o setor ainda tem tido seu crescimento sustentado, principalmente, pelo BNDES.

Entre os principais gargalos que dificultam o financiamento desta indústria no Brasil estão as poucas opções de financiadores a taxas compatíveis com os retornos dos projetos; baixa participação e competitividade de bancos privados em estruturas de financiamento de longo prazo; inviabilidade, em muitos casos, de um empréstimo-ponte; baixo volume de estruturas alternativas de financiamento, como títulos, IPOs etc; e descasamento entre o prazo para aprovação ou liberação dos recursos e a real necessidade de caixa do projeto.

Em um ambiente regulado de forma adequada e com um histórico de sucesso cada vez mais sólido, a tendência é que haja um mercado de crédito mais maduro no curto prazo, mas, ainda assim, restritivo. O apoio das instituições públicas de crédito é fundamental para o desenvolvimento do mercado, mas estas não devem ser as fontes únicas de toda a demanda.

Por outro lado, a utilização de algumas estruturas de financiamento existentes em outros países depende principalmente do amadurecimento do mercado local e, não necessariamente, de ações do setor eólico. Por isso, o tema crédito deve estar na agenda de planejamento do segmento no Brasil, já que é fundamental para sustentar o crescimento projetado. Uma coisa é certa: um ambiente mais adequado às necessidades dos investidores só poderá ser construído com a participação ativa de todos