Título: Eu pretendo votar o fator previdenciário
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 15/07/2012, O País, p. 11

Após causar a ira do Palácio do Planalto com a polêmica "pauta-bomba", o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), foi chamado para jantar no Palácio da Alvorada e convidado para integrar a comitiva presidencial que irá à abertura das Olimpíadas de Londres. Agora, diz que a relação com a Presidente Dilma está na fase do "tome love todo dia". Frisa, porém, que os deputados não são obrigados a concordar com tudo que o governo quer e avisa que sua meta é aprovar o fim do fator previdenciário, que o governo evita a todo custo.

BRASÍLIA

O GLOBO: A impressão é que a relação da presidente Dilma com a Câmara é mais turbulenta do que a do governo Lula. O senhor concorda?

MARCO MAIA: Todas as matérias enviadas pela presidente e que eram importantes para o país foram aprovadas. A Constituição diz que os poderes são harmônicos, mas independentes e autônomos.

O senhor tirou projetos polêmicos da gaveta...

MAIA: Aqui, tradicionalmente, na dúvida, não se votava. Neste um ano e meio, nós, na dúvida, votamos. Invertemos a lógica.

O ministro da Fazenda disse que, se o Congresso aprovar 10% do PIB para a Educação e acabar com o fator previdenciário, quebra o país.

MAIA: Temos de construir sempre a síntese mais equilibrada. Vincular à educação 10% do PIB foi o consenso construído.

Relação com Dilma está em clima de "love o dia inteiro"

O GLOBO: Como o senhor responde às críticas de que pôs uma pauta-bomba em votação?

MAIA: São declarações equivocadas. Primeiro, disseram que eu estava querendo enfrentar a presidente. Segundo, que eu estaria fazendo isso porque não fui atendido em cargos no governo ou no Banco do Brasil. Não é verdade. A pauta foi montada em cima de reivindicações da sociedade e dos partidos.

O senhor quer votar a nova reforma da Previdência até o final de sua gestão?

MAIA: O fator previdenciário atinge a totalidade dos trabalhadores que estão hoje empregados. Não é razoável que o trabalhador, contribuindo por 35 anos, ao se aposentar, tenha uma redução na aposentadoria por não ter completado uma idade mínima. Não estamos falando em prejudicar contas públicas. Temos que encontrar um caminho que restabeleça a justiça. No nosso 0800 e no site a matéria que mais tem intervenção do cidadão é o fator previdenciário. O Parlamento não pode se omitir nisso. Eu pretendo, na minha gestão, votar esta questão.

Como define sua relação com a presidente?

MAIA: É a melhor possível, de amizade, de parceria, de dois dirigentes políticos que fazem parte do mesmo partido, estão do mesmo lado. Isto não nos dá, é óbvio, o direito de querer concordar um com o outro em tudo. É natural, faz parte do processo.

A relação está bem, então?

MAIA: Eu brinquei com a presidente, citando uma música sertaneja que diz: "tome love o dia inteiro". Minha relação com a presidenta é isso: estamos na fase do tome love o dia inteiro. Ela riu e disse: é isso mesmo! Mas ela não conhecia a música (risos).

Depois que o senhor assumiu, foram aprovados reajustes para deputados, servidores e, agora, teve aumento da verba de gabinete...

MAIA: Esse tema da remuneração do Parlamento vem desde a Grécia. Só participavam dos parlamentos os nobres, aqueles que tinham outra fonte de renda. As camadas mais populares só começaram a participar quando se estabeleceram critérios de remuneração. Precisamos ter uma uniformização para permitir que os parlamentares exerçam seu mandato de forma integral, sem diferenças entre pobres e ricos.

Os servidores também?

MAIA: Não é razoável que eles fiquem cinco anos sem reajuste. Como não há uma regra, os reajustes do setor público vão acontecendo de acordo com a conveniência política. Por que uns recebem mais e outros menos no setor público? Porque uns têm mais poder de pressão, de perturbar os governos. Tínhamos que estabelecer regras de reajuste para o setor público.

E a guerra anual das emendas parlamentares?

MAIA: Sou um defensor das emendas. Se não forem os deputados, que representam o povo, quem vai definir onde serão investidos os recursos?