Título: Turquia desloca tropas para pressionar a Síria
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Fonte: O Globo, 29/06/2012, O Mundo, p. 32

Carro-bomba atinge centro de Damasco, e Assad rejeita qualquer plano ou intervenção estrangeira

DAMASCO . Em um dia de muita pressão dentro e fora de casa, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, rejeitou qualquer intervenção estrangeira - ainda que meramente diplomática - para o conflito que tomou o país. Em Damasco, a oposição deu mais uma demonstração de força. Um carro-bomba no estacionamento do Palácio da Justiça, no centro da capital, e um outro artefato, detonado junto a uma delegacia, aproximaram mais ainda a violência do centro do poder sírio. A guerra de nervos contra o regime baathista de Assad ganhou, ainda, uma nova frente. A vizinha Turquia deslocou tropas e blindados para a fronteira em represália à derrubada de um de seus aviões na semana passada.

Logo pela manhã, imagens da TV turca mostravam um comboio de ao menos 30 veículos militares, entre eles caminhões carregados de mísseis, chegando à cidade de Iskenderun, a 50 quilômetros da fronteira com a Síria. A mobilização foi decidida pelo Conselho Nacional de Segurança, órgão que reúne as principais autoridades civis e militares da Turquia, após uma reunião que se arrastou por horas. Segundo o diário "Milliyet", o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan optou por um "corredor de segurança" na região.

"A Turquia vai agir com determinação e se reservar todos os seus direitos dentro da lei internacional em face a esse ato hostil", informou o conselho, em um comunicado.

Conferência de Annan, em Genebra, começa esvaziada

O governo turco também prometeu acelerar uma licitação avaliada em US$ 4 bilhões para a construção de um escudo de defesa antimísseis sobre o país. Erdogan, no entanto, não fez comentários públicos sobre a medida ou mesmo sobre a Síria - um silêncio interpretado por analistas como estratégico, uma vez que Ancara não teria interesse na confrontação militar direta com o vizinho.

Em Damasco, numa rara entrevista, concedida à TV iraniana, o presidente sírio reafirmou seu compromisso em "eliminar terroristas". E sem qualquer ajuda externa.

- A responsabilidade do governo sírio é proteger todos os seus habitantes. Temos a responsabilidade de eliminar os terroristas em todo canto do mundo - declarou Assad. - Não vamos aceitar nenhum não sírio, nenhum modelo não nacional, seja de países grandes ou amigos. Ninguém sabe resolver os problemas sírios como nós.

A declaração foi um golpe extra aos esforços do enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan. Depois de sugerir um governo de união nacional na Síria, Annan viu sua proposta rejeitada pela oposição e recebida com ceticismo pela Rússia. O diplomata reúne amanhã, em Genebra, um grupo de emergência para discutir a crise. E sem atores regionais importantes, como Irã e Arábia Saudita.