Título: O lixo que não é de ninguém
Autor: Milhorance, Flávia
Fonte: O Globo, 29/06/2012, Rio, p. 14

Órgãos não se entendem sobre responsabilidade pela coleta no entorno do Galeão

O Aeroporto Internacional Tom Jobim tem uma área de 17 quilômetros quadrados, e quase a totalidade deste território é contornada pela Baía de Guanabara. O que poderia ser um privilégio para o Galeão, rodeado de paisagens naturais, é, na verdade, um tormento. A cada maré, grande quantidade de lixo se acumula nas margens do aeroporto, o que, além de criar um cenário de degradação, ainda pode representar risco às aeronaves, devido ao aumento do número de aves e até de objetos na pista. Mas de quem é a responsabilidade pela coleta do entulho acumulado? A pergunta fica no ar.

- A região, em tese, é da Infraero. Mas a margem fica indefinida neste contexto. Não há um entendimento sobre a responsabilidade do resíduo que vem da maré da Baía de Guanabara - afirmou Fued Abrão Júnior, coordenador de meio ambiente da Infraero.

De acordo com Fued, trechos das margens são limpos "de tempos em tempos" pela Infraero, mas não há uma periodicidade. O entulho é retirado, por exemplo, quando é feito o aparo da grama do entorno do Galeão, que, segundo o órgão, ocorre duas vezes por mês. A empresa Sanetran Saneamento Ambiental S/A tem a concessão do serviço de coleta do aeroporto e recolhe mensalmente cerca de 16 toneladas de lixo. Mas o contrato não abrange o recolhimento do entulho das margens da baía.

- É um lixo que não é gerado dentro do aeroporto. Imagine internalizar todo o custo de coleta e descarte correto disso - afirmou Fued, que garantiu que a Infraero tem realizado reuniões com a prefeitura para tratar do tema. - Estamos buscando parcerias para tornar o trabalho contínuo.

Infraero avalia custos da coleta

A Infraero diz que está levantando o custo da coleta diária do lixo da baía, incluindo a instalação das chamadas ecobarreiras. Mesmo assim, ainda espera contar com o apoio da prefeitura para a sua implementação. Por meio de nota, o superintendente regional da empresa, Abibe Ferreira Júnior, afirmou que o órgão "vem dialogando positivamente com a prefeitura para tratar de diversos temas em comum, o que inclui a remoção de resíduos que chegam à orla do aeroporto".

Apesar de a Infraero garantir que tem tido um bom diálogo com a prefeitura, a Comlurb informou, por meio de nota, que a área do aeroporto é federal. Sobre a coleta no local, limitou-se a dizer que "a Infraero tem uma empresa contratada para fazer a limpeza".

Em relatório feito em maio, a Infraero apontou 11 áreas críticas de acúmulo de lixo e admitiu que isso "é um fator de risco para a segurança operacional". Um dos perigos é que objetos, por ação do vento, sejam transportados para as pistas. Além disso, o lixo é um atrativo a pequenos animais que, por sua vez, atraem aves, que podem colidir com aeronaves. Apenas em 2011, a Infraero contabilizou 44 incidentes com pássaros dentro do Galeão. Até abril deste ano, foram 15 ocorrências.

O coordenador executivo do Programa de Saneamento da Baía de Guanabara (Psam), da Secretaria estadual do Ambiente, Gelson Serva, afirmou que a pasta estuda implementar um programa específico para recolher o lixo flutuante de rios e da baía. Já a Cedae informou que esta é uma atribuição da Secretaria do Ambiente.

O lixo no entorno é apenas um dos muitos problemas enfrentados pelo Galeão. Na tarde de ontem, repórteres do GLOBO se depararam, nos dois terminais, com uma esteira, quatro elevadores, uma escada rolante e bebedouros fora de operação. No terminal 1, a escada rolante central estava com tapumes de obras, sem funcionários. Segundo a Infraero, as escadas começaram a ser retiradas segunda-feira. A empresa informa ainda que aumentará o valor investido mensalmente em manutenção de R$ 112 mil para R$ 230 mil a partir de setembro.

Para atender aos passageiros na Rio+20, a Infraero investiu cerca de R$ 1 milhão em manutenção no Galeão. Além das ações já desenvolvidas periodicamente, foram realizados serviços como recapeamento, recuperação da área de estacionamento de veículos oficiais, reparo do telhado e aumento da mão de obra. A Infraero estima que cerca de 54 mil pessoas tenham passado pelo Galeão diariamente durante a conferência.

COLABOROU Emanuel Alencar