Título: Deputados das emendas serão investigados
Autor: Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 29/06/2012, O País, p. 12

Representação do PSOL contra João Carlos Bacelar e Marcos Medrado seguirá para o Conselho de Ética da Câmara

BRASÍLIA . O PSOL entregou ontem ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), o pedido para que o Conselho de Ética abra uma investigação contra os deputados João Carlos Bacelar (PR-BA) e Marcos Medrado (PDT-BA) pelo esquema de compra de emendas parlamentares. O partido já havia pedido que a Corregedoria da Casa fizesse uma investigação preliminar sobre a venda de emendas do deputado Geraldo Simões (PT-BA) para Bacelar, revelada pela ex-mulher deste, a empresária Isabela Suarez.

- Entramos com a representação junto à presidência para dar enfase à seriedade do caso. O presidente Marco Maia também julga o caso grave. Esse em particular tem um impacto muito grande, mancha a imagem da Câmara. O tráfico que vem sendo feito coloca em xeque o próprio uso das emendas individuais, porque comprar e vender emendas vira um grande negócio, vira financiamento de campanha - explicou o presidente do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), que assinou a representação.

O documento seguirá agora para o Conselho de Ética da Câmara, onde Bacelar já responde a um processo por nepotismo cruzado. O balcão de negociação de emendas na Câmara foi revelado pelo GLOBO há 10 dias. Em conversa reservada com Lílian Bacelar, a irmã de João Carlos Bacelar que trava com ele uma disputa por herança, Isabela Suarez revelou que vários parlamentares vendem suas emendas para financiar suas campanhas. Bacelar, segundo a ex-mulher, as comprava com dois objetivos: enviar recursos para suas bases eleitorais e direcionar verbas para sua empreiteira e outras construtoras com as quais mantém sociedade.

O deputado Marcos Medrado, citado em uma planilha que Bacelar usava para acompanhar a destinação de recursos para suas bases, reconheceu ter negociado com ele uma emenda. Segundo Medrado, um prefeito disse que só poderia apoiá-lo na eleição se ele destinasse uma emenda de R$ 2 milhões para uma cidade que Bacelar escolhesse. Medrado nega apenas ter recebido dinheiro pelo envio da emenda.

Como a Câmara entra em recesso dentro de duas semanas e em seguida terá início o processo eleitoral, há o risco de os processos ficarem para o fim do ano. Ivan Valente, no entanto, acredita que o Conselho não deverá se submeter ao recesso branco feito pelos deputados durante a campanha eleitoral:

- Há vários processos no Conselho de Ética, o do próprio Bacelar, os dos deputados ligados ao escândalo do Cachoeira e o contra o deputado Protógenes Queiroz. Mas o caso do deputado Bacelar tem uma peculiaridade: a utilização da compra e venda de emendas parlamentares e a desmoralização que isso causa atinge o conjunto dos deputados. É algo que precisa ser sanado. Espero que a Câmara não sente em cima e o Conselho não protele o julgamento, até porque ele tem impacto nas novas emendas que serão feitas neste ano. Acho que o Conselho não está sujeito ao processo eleitoral - disse.