Título: Patrimônio de Agnelo tem variação inexplicada
Autor: Carvalho , Jailton de
Fonte: O Globo, 03/07/2012, O País, p. 4

BRASÍLIA. Relatório da Receita Federal indica que o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) teve variação patrimonial a descoberto em 2009 e 2010, período em que ocupava uma das diretorias da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em 2009, a variação patrimonial acima da renda declarada foi de R$ 93,5 mil. Em 2010, o descompasso foi de R$ 13,6 mil.

O documento já está em poder da CPI Mista do Cachoeira. No dia 13 do mês passado, quando prestou depoimento à comissão, Agnelo disse que não havia nenhum problema com suas receitas e gastos pessoais. O governador até ofereceu aos parlamentares a quebra de seu sigilo bancário e fiscal. Depois de analisar os números, o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), um dos integrantes da CPI, disse que o governador deve dar novas explicações sobre as discrepâncias apontadas pela Receita.

- A Receita tem que abrir uma fiscalização (investigação fiscal) sobre isso. Vamos ver se cabe uma investigação também do Ministério Público Federal - disse o líder do PPS na Câmara.

O porta-voz do governador, Ugo Braga, negou irregularidade nas declarações do Imposto de Renda de Agnelo. Segundo ele, a Receita só apontou patrimônio a descoberto porque não levou em consideração a declaração de renda da mulher de Agnelo, a médica Ilza Queiroz. Os dois são casados com comunhão de bens e a renda dela seria suficiente para cobrir parte das despesas que aparecem na declaração do governador. Em 2009, ela teria tido renda líquida de R$ 140 mil e, em 2010, de R$ 139 mil.

- O patrimônio do governador é o patrimônio do casal e não tem um centavo a descoberto - disse Braga.

A CPI aprovou a quebra do sigilo bancário e fiscal do governador numa investigação sobre supostas ligações de ex-auxiliares de Agnelo com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e dirigentes da construtora Delta, encarregada da coleta do lixo no Distrito Federal.

Convocados não comparecem à CPI

Depois de uma sessão em que nenhum dos quatro convocados apareceu para falar, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou ontem que Ana Cardoso de Lorenzo, uma das pessoas que iriam depor, enviou um documento admitindo que recebeu, em setembro de 2010, R$ 28 mil da Alberto & Pantoja, em pagamento de pesquisa eleitoral.

Segundo o texto encaminhado pela defesa de Ana Cardoso, sócia do instituto de pesquisa goiano Serpes, o levantamento foi pedido pelo ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso de Paula, que também deveria ter comparecido ontem à CPI. A pesquisa, segundo o Serpes, foi encomendada para consumo interno do PTdoB, não tendo relação com a campanha do tucano Marconi Perillo, eleito governador de Goiás em 2010.

A Alberto & Pantoja é apontada como uma empresa de fachada da organização de Cachoeira. Uma de suas sócias, Rosely Pantoja da Silva, também deveria ter prestado depoimento ontem, mas, mesmo com cinco endereços diferentes, não foi encontrada. O Detran, que já foi comandado por Edivaldo, era uma das áreas controladas por Cachoeira no governo de Perillo. (COLABOROU André de Souza )