Título: Angústia que se prolonga
Autor: Costa, Célia; Camelo, Mario
Fonte: O Globo, 14/07/2012, Rio, p. 14

F oram adiadas mais uma vez as esperanças da família da engenheira Patrícia Amieiro de pôr fim à angustiante procura pelo corpo da jovem, desaparecida desde junho de 2008, quando seu carro, com marcas de tiros, foi encontrado na Lagoa da Tijuca, na Barra. Ontem à tarde, ao fim do quarto dia de buscas no Sítio Vitória, no Itanhangá, o tenente-coronel Vitor Leite, comandante do 2 Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente, anunciou que as buscas tinham sido encerradas, depois de as equipes terem vasculhado os 50 mil metros quadrados da propriedade. Ao ouvir a informação, Adriano, irmão de Patrícia, que desapareceu quando tinha 24 anos, chorou.

- Eu entendo e respeito a opinião do Corpo de Bombeiros, eles são especialistas. Confio no trabalho do Ministério Público e da polícia, mas peço que as buscas não terminem aqui no sítio. A gente acredita que as roupas (encontradas na terça-feira) sejam da Patrícia, sentimos que ela pode estar aqui. Então, eu faço um apelo ao governador e ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, para que as buscas continuem só mais um pouquinho - disse Adriano, que desde terça-feira acompanhava os trabalhos.

Delegado diz que há indícios contra PMs

No Tribunal de Justiça, um outro adiamento: após a audiência de instrução de julgamento sobre o desaparecimento de Patrícia, ontem à tarde, a juíza Ludmilla Vanessa Lins da Silva adiou a decisão de levar ou não o caso a júri popular, a pedido da defesa dos PMs acusados do crime. Ela afirmou que vai expedir um ofício para a Divisão de Homicídios (DH), para que informe, num prazo de cinco dias, os resultados da perícia realizada nos pedaços de roupas encontrados no sítio durante as buscas. Somente após este laudo, a audiência final será marcada. A juíza também disse que vai enviar um ofício ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e determinar um prazo - ainda não revelado - para que a perícia seja feita.

Durante a sessão, o delegado Marcos Alexandre Reimão, que era da Divisão Antissequestro (DAS) e que estava à frente das investigações quando Patrícia sumiu, declarou disse ter convicção da participação dos quatro policiais militares no caso. O delegado declarou que, pelas circunstâncias, o veículo foi atingido por tiros naquele local e que alguns fragmentos de balas retirados são compatíveis com as armas usadas pelos PMs.

- Devido à quantidade de indícios, fui levado a pensar na hipótese de homicídio - relatou.

Já os quatro PMs acusados de matar e ocultar o corpo da engenheira, que respondem ao processo em liberdade, foram interrogados e, mais uma vez, negaram a autoria do crime. Os acusados também revelaram que, durante os quatro anos que se seguiram após o desaparecimento de Patrícia, todos foram promovidos pela Polícia Militar. Marcos Paulo Nogueira Maranhão e Márcio de Oliveira Santos tornaram-se sargentos, Wiliam Luís do Nascimento foi promovido a terceiro-sargento e Fábio da Silveira Santana virou a cabo. Os parentes de Patrícia, que estavam no tribunal, não sabiam dessa informação e ficaram perplexos.

De manhã, os pais de Patrícia voltaram à DH, na Barra, para um novo reconhecimento das roupas encontradas terça-feira no sítio. A mãe da engenheira, Tânia Franco, continua achando que a blusa pode ser de Patrícia, porque se parece com a roupa que a filha usava na noite do desaparecimento (tem os mesmos tons de roxo).

- É bem provável que a blusa seja da minha filha. A roupa que ela estava usando naquele dia não sai da minha mente. Era uma blusa nova que ela tinha comprado para ir à festa. Por isso eu não esqueço - afirmou Tânia.

Já o pai de Patrícia, Antônio Celso Franco, disse que espera ver os quatro PMs serem levados a júri popular e condenados:

- A gente quer justiça. Eu quero poder voltar a dormir de novo, porque há quatro anos não tenho tranquilidade, não festejo aniversários, só penso em encontrar a minha filha.

As buscas ao corpo de Patrícia, iniciadas na terça-feira após uma denúncia anônima que levou os policiais ao sítio, recomeçaram às 10h de ontem e contaram com a participação de 217 pessoas - além de bombeiros com cães farejadores, policiais da DH, integrantes do Ministério Público e operários da Secretaria municipal de Conservação. Foram achadas apenas ossadas de animais. Uma cisterna na parte alta do terreno foi esvaziada, mas nada foi localizado dentro dela.

O grupo também atendeu a um apelo de Adriano: o irmão da engenheira pediu que fosse vasculhada uma área entre duas enormes pedras, em frente à casa do proprietário do sítio. O lugar foi escavado, mas só havia lixo.

O diretor do laboratório de DNA da Uerj, Elizeu Fagundes de Carvalho, especialista em genética, afirma que as roupas achadas no sítio ainda podem conter DNA de quem as usava.

- Elas são uma das ferramentas para identificar o DNA de uma pessoa. As partes que têm mais atrito com a pele podem guardar escamações de células - disse ele. - O tempo de identificação do DNA é relativo. Isto depende do estado das roupas. Pode ser rápido ou demorar até 60 dias.

Segundo o especialista, se forem encontrados vestígios de sangue ou cabelos nas roupas, a identificação poderá ser ainda mais rápida.