Título: Falta gente para elaborar projetos
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Fonte: O Globo, 14/07/2012, Economia, p. 21

BRASÍLIA. No momento em que incentivar investimento virou consenso, a presidente Dilma Rousseff tem sido pressionada por técnicos para autorizar mais concursos pois - segundo eles - falta gente para elaborar e aprovar projetos importantes, sobretudo de infraestrutura. De janeiro a março deste ano, o Executivo perdeu quase 9 mil funcionários públicos. A maioria se aposentou.

Os interlocutores já avisaram Dilma que está difícil cumprir rapidamente a tarefa de criar um grande cronograma de concessões e licitações para destravar os investimentos com foco em 2013, porque pastas como Cultura e Meio Ambiente receberam mais mão de obra do que as áreas de infraestrutura. Atentos ao momento, os técnicos do setor ameaçam entrar em greve, o que comprometeria ainda mais o andamento do PAC.

A execução dos investimentos está aquém do que quer o governo. Dos R$ 17,7 bilhões que o Ministério dos Transportes tem para investir, apenas R$ 3,6 bilhões foram empenhados até maio. Já a pasta da Integração Nacional empenhou somente R$ 1,1 bilhão dos R$ 6,5 bilhões reservados no Orçamento. O Ministério das Cidades empenhou R$ 976 milhões dos R$ 17,3 bilhões.

Os servidores que intimidam o governo com a promessa de cruzar os braços tiveram a carreira criada em 2007. Esses funcionários públicos, espalhados pelos ministérios de Transportes, Minas e Energia, Cidades e Integração Nacional, compõem mão de obra especializada nos empreendimentos do PAC e se queixam da remuneração.

Segundo a Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra), a cada ano 30% dos profissionais deixam a carreira em busca de concursos do Tribunal de Contas da União, da Controladoria-Geral da União ou partem para a iniciativa privada em busca de pagamentos maiores. No último concurso para auditores do TCU, por exemplo, dos 21 aprovados, sete eram analistas de infraestrutura. Os concursos e nomeações sequer repõem essa evasão, diz Guilherme Floriani, presidente da Aneinfra.

- Esse problema de recursos humanos prejudica a tentativa de acelerar projetos de infraestrutura e o PAC.

Dilma tem ouvido que está na hora de recompor o quadro, para dar vazão aos investimentos. Nos últimos quatro anos, o Ministério das Cidades perdeu 157 servidores. Em três anos, Transportes perdeu 435 pessoas, e a pasta da Integração Nacional ficou sem 226 pessoas.

Segundo um interlocutor da presidente, o Ministério dos Transportes está parado. Já o da Integração Nacional nunca esteve tão esquecido e perdeu os melhores técnicos para órgãos com atuação mais forte. (Gabriela Valente, Danilo Fariello, Vivian Oswald)