Título: BC americano sabia de manipulação da Libor
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Fonte: O Globo, 14/07/2012, Economia, p. 24

WASHINGTON . O escândalo de manipulação da taxa interbancária Libor ganhou nova dimensão esta semana após a comprovação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Nova York teve conhecimento da adulteração, mas não denunciou a irregularidade. Segundo documentos divulgados ontem pelo BC dos EUA, um empregado do banco britânico Barclays alertou o banco central americano em abril de 2008 de que a instituição estava manipulando para baixo seus custos de financiamento, seguindo indícios que remontam a 2007 de que os bancos não estavam respeitando a integridade das taxas de juros essenciais.

O Fed de Nova York teria começado a investigar o assunto e passado suas conclusões para outras autoridades financeiras, mas as ações da agência não coibiram a irregularidade. Esta semana, o comitê de Serviços Financeiros da Câmara enviou uma carta ao Fed de Nova York pedindo transcrições de diversas conversas telefônicas envolvendo funcionários da autoridade monetária e executivos do Barclays. Ontem, a instituição governamental divulgou os documentos, além de conversas realizadas por e-mail.

Em 2008, o funcionário do banco britânico teria dito que a manobra era motivada pelo desejo de "adequar-se ao resto do mundo" e acrescentou: "sabemos que não estamos divulgando uma Libor honesta", mostram os documentos. À época da conversa (abril de 2008), o Barclays já adulterava a taxa há três anos. As revelações chamaram atenção para a responsabilidade dos órgãos reguladores no escândalo de manipulação da taxa.

Sob os holofotes, está Timothy Geithner, presidente do Fed de Nova York na ocasião, que informou outros órgãos reguladores sobre os problemas em maio e junho de 2008. Ainda assim, questiona-se se Geithner, hoje secretário do Tesouro, foi suficientemente contundente ao lidar com o problema. Ele vai explicar isso ao testemunhar no Congresso americano ainda neste mês.

Segundo documentos obtidos pela agência de notícias Reuters, Geithner, em junho de 2008, em e-mail particular ao presidente do BC inglês, Mervyn King, fez uma lista de recomendação com seis maneiras de aumentar a credibilidade da taxa Libor.

Efeitos do escândalo podem custar 12 bi a envolvidos

Um estudo publicado ontem pelo banco americano Morgan Stanley indica que os efeitos do escândalo podem custar cerca de 12 bilhões a 11 bancos. São 18 os bancos que participam da elaboração da taxa, mas o banco se concentrou em 11 deles, sem explicar o motivo. Segundo o banco, as multas devem somar 5,67 bilhões, e as custas judiciais, 6,38 bilhões.

Em sua defesa, o Fed de Nova York diz que os relatos da época não davam prova definitiva de uma ampla manipulação. Além disso, a instituição estava inteiramente voltada para o combate à crise financeira:

"No contexto de nossa análise de mercado, após o início da crise financeira, no fim de 2007, que envolveu milhares de chamadas e e-mails a participantes do mercado ao longo de um período de muitos meses, recebemos relatos ocasionais do Barclays sobre problemas com a Libor."

O caso do Barclays é o primeiro a vir à tona, dentro de uma ampla investigação que envolve outros grandes bancos.

* Com agências internacionais