Título: França ordena prisão de filho de ditador africano
Autor:
Fonte: O Globo, 14/07/2012, O Mundo, p. 29

PARIS . A Justiça francesa emitiu ontem uma ordem de prisão para Teodoro Nguema Obiang, vice-presidente e provável sucessor de seu pai, o ditador Teodoro Obiang, na Guiné Equatorial. Famoso pelo estilo de vida extravagante, Teodorín, como é conhecido, está no centro de uma grande investigação na França sobre lavagem de dinheiro por parte de famílias abastadas de líderes africanos.

A ordem de prisão para Teodorín foi por faltar, anteontem, a um interrogatório do processo. As suspeitas em torno de seu nome, no entanto, são mais complexas. Além de lavagem de dinheiro, os juízes franceses acreditam que o vice-presidente esteja envolvido em desvio de fundos públicos, usurpação de bens sociais e abuso de confiança.

Seu paradeiro é desconhecido - seus advogados confirmam apenas que ele não está na Guiné Equatorial. Mas a ordem de detenção diz que Teodorín pode ser preso "em todo o espaço judicial europeu" e, depois, extraditado à França. Sua defesa questiona a legitimidade do mandado e entrou com uma reclamação junto à Chancelaria francesa.

- A ordem não tem qualquer valor jurídico. É contrária aos princípios do Direito Internacional - disse Olivier Pardo, que defende os interesses de Teodorín na França.

Num país dono do sexto pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, onde metade das crianças morre antes de completar 5 anos e 80% dos habitantes vivem com menos de US$ 1 ao dia, o primogênito do mais longevo ditador africano destoa ao, com 43 anos, acumular uma fortuna estimada em US$ 850 milhões - apesar de seu salário no governo não ultrapassar US$ 10 mil.

O patrimônio é diversificado: uma mansão de US$ 30 milhões na badalada praia de Malibu; mais de US$ 20 milhões em obras de artes do espólio de Yves Saint Laurent; um luxuoso jato Gulfstream V de US$ 35 milhões, além de uma seleta coleção de carros - que ele gosta de combinar com a cor do sapato.

Só em sua mansão em Paris, avaliada em US$ 80 milhões e a menos de 150 metros do Arco do Triunfo, foram apreendidos em outubro passado 14 de seus carros de luxo e US$ 15 milhões em antiguidades e obras de artes. Ontem, os juízes reiteraram que os bens não serão devolvidos, apesar de a Guiné Equatorial argumentar que o imóvel é uma residência oficial do governo.

O caso é parte de uma investigação que inclui também os presidentes do Gabão, Ali Bongo, e da República do Congo, Denis Sassou-Nguesso. As três famílias são suspeitas de acumularem 63 propriedades de luxo e mais de 200 contas em bancos na França. Teodorín ainda enfrenta investigações similares em Estados Unidos e Espanha.

A ordem de prisão coincidiu ontem com o anúncio da Unesco de que, apesar dos protestos de grupos de defesa dos direitos humanos, irá adiante com a entrega de um prêmio científico financiado por Obiang.