Título: Com cassação, Senado reduz danos à imagem
Autor: Antônio Azevedo, Fernando
Fonte: O Globo, 12/07/2012, O País, p. 10

Para cientista político, porém, os 19 votos favoráveis a Demóstenes demonstram a resistência corporativa da Casa

Cientista político e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Fernando Antônio Azevedo afirma que o Senado ontem "cortou na carne" ao cassar Demóstenes Torres (sem partido-GO) com 56 votos, mas ressalta que a votação, com 19 senadores contra a punição, deixa um rastro de corporativismo na Casa. Para o especialista, que realiza pesquisas na área de comportamento político e instituições, a saída de Demóstenes era previsível e ajuda o Senado a reduzir os danos à sua imagem.

Tatiana Farah

SÃO PAULO

GLOBO: O senador Demóstenes Torres foi cassado por 56 votos contra 19, além de cinco abstenções. O que o senhor acha do placar?

FERNANDO AZEVEDO: Ele teve ainda 19 votos? A cassação era previsível porque ele (Demóstenes) foi figura chave do escândalo Carlos Cachoeira. Com a cassação, o Senado reduz os danos à sua própria imagem.

Pode ser uma forma de o Senado se reabilitar ante a sociedade?

AZEVEDO: Não. É preciso muito mais do que isso para o Senado se reabilitar. O que ocorreu é que o Senado estava diante de um problema, que era a sua imagem. Absolver Demóstenes acarretaria mais danos ainda. Premido pela opinião pública e pela crítica da mídia, o Senado entregou sua cabeça. Mas não é uma cassação isolada que vai reabilitar o Senado, até porque sua imagem está articulada à da Câmara dos Deputados e da própria classe política. Para restaurar o desgaste que já ocorre há anos, o Congresso deveria ter ações concretas e decisivas contra a corrupção e o corporativismo.

Com a votação, o Senado rejeitou o corporativismo?

AZEVEDO: Ainda há muita resistência corporativa. O fato de haver 19 votos a favor de Demóstenes cairá, negativamente, na opinião pública. No fim, é uma votação que reforça a imagem estigmatizada de nossas instituições públicas.

Mas qual é a imagem que será transmitida à sociedade?

AZEVEDO: No saldo geral, fica a percepção de que o Senado cortou na própria carne, mas essa votação mostra uma tendência, de parte do Senado, de se autoproteger. O Senado, por ter apenas 81 parlamentares, acaba levando a relações mais corporativas e pessoais do que a própria Câmara. Tanto que, quando você olha do retrovisor, vê que, em sua história, apenas dois senadores foram cassados.