Título: Inadimplência cresceu 19% no 1 semestre
Autor: Setti, Rennan
Fonte: O Globo, 12/07/2012, Economia, p. 23

A inadimplência do consumidor foi 19,1% maior no primeiro semestre deste ano do que fora nos primeiros seis meses de 2011, concluiu um estudo da consultoria Serasa Experian, divulgado ontem. Considerando apenas junho, houve um aumento de 15,4% na comparação com o mesmo mês do ano passado, mas os calotes diminuíram 0,5% em relação a maio.

O estudo mostra que os consumidores enfrentam cada vez mais dificuldades para pagar dívidas aos bancos. A inadimplência nesse segmento aumentou 22,1% no semestre e foi responsável por mais da metade da expansão do calote no período - contribuiu com 10,9 pontos percentuais nos 19,1% registrados.

Emissões de cheques sem fundo diminuíram

As dívidas não bancárias (contraídas por meio de lojas, cartões de crédito, financeiras e serviços como energia elétrica, água e telefonia) aumentaram em nível semelhante (21,6%), mas contribuíram menos para a evolução do calote porque representam uma parcela menor do crédito oferecido no mercado. O único tipo de inadimplência que recuou foi a causada por cheques sem fundos, 5,9% menor no semestre.

Em nota, os economistas da consultoria explicaram que os calotes aumentaram porque a renda do consumidor está comprometida, principalmente com dívidas caras (cheque especial e rotativo do cartão de crédito) e de alto valor (veículos e imóveis). Eles observaram que, em média, cada inadimplente dá quatro calotes, e que 60% deles têm dívidas que superam toda a sua renda.

- Houve descontrole, e o resultado é esse. O consumidor vem se endividando desde 2010, e com prazos longos. Algumas categorias foram prejudicadas com a redução de horas extras provocada pela crise, como os empregados da indústria automobilística - analisou Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian.

Ele prevê que a inadimplência fechará o ano com um patamar alto, mas abaixo do registrado atualmente. Os motivos seriam a menor atividade econômica no segundo semestre, o número baixo de datas comemorativas nos próximos meses e o aumento de renegociações de dívidas. Almeida espera que a inadimplência, pelo indicador do Banco Central, ficará em 7% ao fim de 2012, abaixo dos 8% de hoje.

Estímulos podem ter aumentado endividamento

Wemerson França, economista da consultoria LCA, concorda que houve descontrole dos consumidores, mas afirma que os bancos também foram coniventes com a situação, pois elevaram suas carteiras de crédito sem o devido cuidado, sobretudo no financiamento de veículos.

- A inadimplência está mais alta do que prevíamos e não mostrou desaceleração nem com a política de redução de juros e de spreads bancários empreendida pelo governo. E os incentivos à economia por meio do consumo pelo governo funcionaram como lenha na fogueira para o aumento do índice de endividamento - afirmou o economista.