Título: Novo desafio contra Aids
Autor: Brites, Carlos
Fonte: O Globo, 11/07/2012, Opinião, p. 7

Receber um diagnóstico de Aids hoje não é mais uma sentença de morte. Existe tratamento, o que não quer dizer que os problemas desapareceram. Quase 31 anos após ter se tornado conhecida e ter representado um marco na história da medicina, uma nova realidade desafia especialistas e pacientes no enfrentamento da doença: as comorbidades cada vez mais presentes entre os soropositivos. A preocupação atual não é mais somente o controle da infecção pelo HIV.

As doenças outrora oportunistas e prevalentes pela falta de terapia agora cedem espaço a outras na população em tratamento no país. Às vezes mais, outras menos incidentes, distúrbios cardiovasculares, hepatites, cânceres, entre outras, estão se tornando comuns aos soropositivos e exigindo um cuidado maior no manejo da Aids.

Por que especialistas, cientistas e pacientes estão atentos a essa nova realidade? Além de todas as peculiaridades para o enfrentamento da Aids, algumas dessas comorbidades têm contribuído significativamente para as taxas de mortalidade, superando as doenças oportunistas, anteriormente responsáveis pela quase totalidade dos óbitos.

Na atualidade, a infecção pelo HIV é perfeitamente controlável. Por outro lado, a terapia agora não se restringe mais apenas à luta contra a Aids. A realidade atual impõe um desafio conhecido bem recentemente - o combate a mais de uma doença com importantes riscos de mortalidade, o que pode comprometer sensivelmente os ganhos do paciente como consequência dos avanços no controle da infecção.

Isso porque, em decorrência de alterações do organismo sob o ataque do HIV e do próprio aumento na sobrevida do soropositivo (vivendo mais, torna-se perceptível a instalação de certos quadros), as comorbidades também podem ser agravadas pelos efeitos colaterais das medicações. Elevação de colesterol, desenvolvimento de diabetes, alterações hepáticas e renais, por exemplo, são algumas possibilidades resultantes do uso de determinadas drogas, além de depressão e de osteoporose que comprometem a qualidade de vida e complicam a terapia.

Nesse caso, é necessária a avaliação de cada quadro de forma individualizada e a adequação do tratamento, com a administração de medicamentos que afetem o menos possível o organismo. Essas drogas mais modernas, altamente eficazes, com boa tolerabilidade e poucos efeitos colaterais já estão disponíveis no Brasil. Mas, mesmo com menor chance de complicações, ainda assim, é preciso tomar a medicação todos os dias, religiosamente. A necessidade da adesão à terapia é inquestionável. Seguindo o tratamento à risca, a qualidade de vida do soropositivo melhora muito.

CARLOS BRITES é professor e coordenador do Laboratório de Virologia da