Título: Líderes tentam salvar o euro
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Fonte: O Globo, 30/06/2012, Economia, p. 31

Merkel cede e aceita ajuda a bancos, entre outras medidas. Bolsas têm forte alta no mundo

BRUXELAS, BERLIM, NOVA YORK e RIO

Sob a ameaça de uma ruptura catastrófica de sua moeda única, os líderes da zona do euro optaram ontem por tentar salvar o bloco. Entre as medidas aprovadas está a possibilidade de injeção direta de capital em bancos atingidos pela crise e a intervenção no mercado secundário de bônus soberanos para apoiar países-membros. Politicamente, o acordo foi visto como uma vitória do primeiro-ministro italiano, Mario Monti, e do presidente de Governo da Espanha, Mariano Rajoy, sobre a chanceler alemã, Angela Merkel, que se opunha obstinadamente a essas alternativas emergenciais. Os investidores reagiram com otimismo ao acordo e as bolsas subiram em todo o mundo. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em alta de 3,23%, aos 54.354 pontos. O euro subiu quase 2%.

Os líderes também se comprometeram a criar um supervisor único para os bancos da zona do euro, baseando em torno do Banco Central Europeu (BCE). Trata-se de um primeiro passo rumo à união bancária europeia, que poderá ajudar a escorar as finanças da Espanha.

- É o primeiro passo para quebrar o círculo vicioso entre bancos e soberanias - disse o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, após as conversações, que atravessaram a madrugada de ontem.

O presidente do BCE, Mario Draghi, endossou os "resultados tangíveis", que também derrubaram o ágio cobrado pelos mercados sobres os títulos soberanos de Espanha e Itália. As ações europeias dispararam, puxadas pelos papéis de bancos, ante o prospecto de resgate dessas instituições e o fortalecimento do sistema financeiro.

- Estou bastante feliz com o resultado do Conselho Europeu - disse Draghi. - Ele mostrou o compromisso a longo prazo com o euro entre todos os estados-membros da zona do euro.

Dólar despenca 3,17%, para R$ 2,01

Merkel defendeu as concessões feitas na cúpula, afirmando aos parlamentares alemães, em sessão ontem no Congresso, que a ajuda a bancos e países em dificuldade da zona do euro serão feitas com condições e contrapartidas. Ela também disse que certas decisões foram mal interpretadas. A imprensa alemã retratou a reunião como uma derrota política para Merkel, mas a líder alemã disse que suas posições permaneceram intactas. A chanceler falou durante a votação e aprovação do pacto de disciplina fiscal europeu e seu Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, da siglem inglês), de 500 bilhões - mas os parlamentares não discutiram as medidas da cúpula. Merkel disse que estas medidas só irão a plenário em outra data.

O presidente dos EUA, Barack Obama, parabenizou os líderes europeus pelo "progresso" na reunião.

- Saudamos de maneira positiva as medidas decididas pelos líderes da União Europeia (UE) na noite de ontem e os seus progressos alcançados - disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, destacando que os problemas da região não serão solucionados "da noite para o dia".

Os ministros de Finanças do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) divulgaram uma nota parabenizando as medidas aprovadas na cúpula dos líderes europeus.

"As medidas aprovadas na cúpula da zona do euro constituem um grande passo", diz a nota. "E demonstra que a Europa está respeitando seus compromissos."

O Fundo Monetário Internacional (FMI) também elogiou as decisões dos líderes europeus, indicando que as medidas ajudarão a fechar uma brecha entre bancos e bônus soberanos.

"Estas são medidas corretas para completar a união monetária, que também se beneficiarão de medidas adicionais para aprofundar a integração fiscal", anunciou o FMI em comunicado.

Em Wall Street, o Dow Jones subiu 2,20% e o Nasdaq, 3%. A Bolsa de Londres avançou 1,42%, a de Paris, 4,75% e a de Frankfurt, 4,33%. Em Milão, o ganho foi de 6,59%. O otimismo dos mercados também fez os preços do petróleo saltarem 9,4% em Nova York, maior alta desde março de 2009. No trimestre, o preço do barril ainda recua 18% e 14%, no ano. Em Londres, a cotação do barril do tipo Brent subiu 6,2%.

No Brasil, o dólar comercial também teve forte queda ante o real, recuando 3,17%, a R$ 2,01 para venda. Foi o maior recuo desde a sessão de 23 de setembro de 2011, quando perdeu 3,48%. A medida, anunciada anteontem pelo governo, que facilita o financiamento de exportações e deve elevar a entrada de dólares no país contribuiu para a queda da moeda americana, segundo operadores. Também ajudou o leilão de US$ 3 bilhões em contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro) realizado pelo Banco Central.

- Se as medidas forem implementadas com rapidez, vai dar uma boa acalmada nos mercados daqui para frente - diz Pedro Galdi, analista-chefe da SLW corretora.

A Bovespa fechou o segundo trimestre com recuo de 15,74%, o quinto pior segundo trimestre da história da Bovespa, segundo estudo da Economática. O período teve volume financeiro recorde: R$ 394,96 bilhões.