Título: Deficiência ainda é fator de exclusão
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 30/06/2012, O País, p. 4

Censo mostra distância entre portadores de necessidades especiais e população

A despeito de críticas à contagem do número de portadores de deficiência no país, a deficiência - física e/ou mental - ainda exclui milhões de brasileiros. Esse grupo que, de acordo com o IBGE, já soma 45,6 milhões de pessoas ou quase um quarto da população, tem taxas de escolarização menores do que as de pessoas sem deficiência. A desigualdade se repete nos indicadores de ocupação e rendimento.

- Essa conta do IBGE é absurda. O que aconteceu para o país ter tantos deficientes? É uma proporção bem acima dos cálculos da ONU, por exemplo. E isso esconde o tamanho verdadeiro da exclusão, que é enorme - disse Teresa Costa d"Amaral, superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos das Pessoas com Deficiência (IBDD).

Segundo o Censo, a taxa de alfabetização continua menor entre as pessoas com deficiência. Na população com 15 anos de idade ou mais, a taxa é de 90,6%. No grupo com alguma deficiência, cai para 81,7%. Já em relação à escolarização, 95,2% das crianças de 6 a 14 anos com deficiência estavam na escola, quase dois pontos percentuais abaixo do total da população (97,1%).

- Como a maioria dos deficientes não tem instrução tão competitiva, não se cria oportunidade adequada para que os deficientes alcancem cargos mais elevados. E o nível de instrução acaba se refletindo no nível de rendimento - disse Andréa Borges, da coordenação do Comitê do Censo Demográfico.

Quando se observa o nível de instrução, a diferença é mais acentuada. Apenas 6,7% das pessoas com mais de 15 anos com deficiência têm diploma de faculdade - proporção abaixo do que se vê no grupo sem deficiência (10,4%). Além disso, 61,1% da população de 15 anos ou mais com deficiência não tinha instrução ou tinha o fundamental incompleto, proporção que caía quase à metade, para 38,2%, para as pessoas dessa faixa etária que declararam não ter nenhuma das deficiências investigadas.

Com menos qualificação, os profissionais que possuem deficiência têm mais dificuldade para garantir uma vaga. Muitas empresas, por sua vez, se queixam de que não conseguem contratar esses profissionais por causa da baixa formação.

E, apesar de uma legislação mais atuante, o nível de ocupação do grupo com deficiência é menor: 46,2%, contra 53,3% das pessoas com mais de 10 anos. Reflexos que aparecem na formalidade, de 40,2% para quem tem deficiência e de 49,2% para quem não tem deficiência

Os salários também são menores. Cerca de 75% dos trabalhadores com deficiência têm rendimento mensal de até dois salários mínimos. Entre os sem deficiência, a taxa é de 70,9%.

O encadernador Eduardo Ventura, que é cego, concluiu o nível médio e traz no currículo cursos na área de saúde. Ele reconhece que o mercado de trabalho ainda deixa de lado essa população.

- O desemprego é grande entre os deficientes. Muitos passam a ser também dependentes da boa-vontade das pessoas.