Título: Na contramão, Brasil envia agentes
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 17/07/2012, O Mundo, p. 24

Doze seguranças farão proteção da embaixada

RIO . A entrada definitiva da capital síria na rota dos combates entre governo e oposição fez o governo brasileiro adotar medidas extras de segurança para proteger não só as instalações da Embaixada do Brasil em Damasco, mas o corpo diplomático e os funcionários. Um grupo de 12 agentes de segurança do Estado será enviado à Síria para trabalhar na proteção da missão brasileira já nos próximos dias. A iniciativa já tem autorização preliminar e depende, agora, apenas do acerto de questões técnicas, como os vistos a serem concedidos pela Embaixada da Síria em Brasília e as autorizações para a entrada de equipamento de defesa leve e de comunicações.

- Estamos funcionando normalmente, mas chegou o momento de contarmos com uma segurança brasileira. Desde o fim de dezembro, há conflitos em maior escala na capital, próximos à embaixada, e essa é uma preocupação muito grande do ministro (das Relações Exteriores) Antonio Patriota - revelou ao GLOBO o embaixador do Brasil na Síria, Edgard Casciano.

A medida vai na contramão de 25% das representações diplomáticas em Damasco: das 69 embaixadas radicadas na capital síria, ao menos 17 fecharam devido ao conflito. Outras operam com o efetivo reduzido. Segundo o diplomata, o envio de seguranças estrangeiros já é prática comum entre as embaixadas no país. A decisão foi tomada em coordenação com diversos órgãos, inclusive a Presidência da República. Os agentes trabalharão em turnos, durante as 24 horas do dia. O pedido para o envio da segurança, diz Casciano, já foi autorizado pelo governo de Bashar al-Assad. E é visto com "muita compreensão".

No domingo, aliás, a violência chegou pela primeira vez bem próximo à missão brasileira. Dois funcionários, cidadãos sírio-brasileiros, moradores da periferia da capital tiveram de ser removidos de suas casas com as famílias devido aos bombardeios.

- Eles estão tranquilos. Felizmente não se feriram. O Brasil tem que ter orgulho, seus funcionários estão desempenhando com muita dignidade o seu papel - disse Casciano. - No bairro de Mezzeh, onde está a embaixada, ouvi ontem disparos o dia inteiro, que se intensificaram à noite.

Além da insegurança, moradores da capital contam que cortes de energia de entre seis e oito horas são diários. O abastecimento de água segue normal, mas a internet vem registrando períodos de muita lentidão. Apesar das dificuldades, não há quaisquer planos de fechar a representação brasileira no país.

- Teremos um grupo bem treinado (para a segurança) em questão de dias. É muito importante que mantenhamos nossa presença. Há muitos brasileiros aqui - lembrou o embaixador. (R.M.)