Título: Não há maneira de definir uma bolha
Autor: Alves, Cristina; Frisch, Felipe
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2009, Economia, p. 31

O senhor vê possibilidade de permanecer no cargo? Ou, como disse o presidente Lula, o senhor pode ter uma comichão e retomar a vida política? MEIRELLES: Certamente, vou analisar isso com muito cuidado e tomarei a decisão mais adequada, visando a ter condições de dar a melhor contribuição possível ao país. Vou levar isso em conta na minha decisão, que tem duas datas limites, a primeira é filiar-me ou não a um partido (o prazo de filiação, para concorrer às eleições de 2010 é setembro) e a segunda é, caso filiado, se seria ou não candidato (o prazo para candidatura é março de 2010).

Uma filiação agora, mesmo sem definição sobre candidatura, não pode causar ruído ou apreensão no mercado? MEIRELLES: Eu passei mais de 40 dias viajando no exterior, conversei com mais de 450 investidores do mundo todo e eu não senti essa preocupação.

Não há dúvida sobre a atuação do BC, ou a minha própria, me filiando ou não. Existem perguntas normais, esperáveis, sobre o que aconteceria no BC após a minha saída, seja em abril de 2010 ou em janeiro de 2011.

Com Bolsa e dólar de volta aos patamares pré-crise, o senhor fala em euforia. Quais os riscos de uma bolha agora? MEIRELLES: Uma das conclusões a que se chegou nas avaliações dos analistas e dos BCs do mundo é que não há maneira precisa de definir uma bolha. A melhor definição que já ouvi é que existe a bolha quando todo mundo percebe, mas isso não é científico. O que existem são comportamentos de euforia e faz parte do papel dos BCs alertar investidores para os riscos de excessos de precificação e prejuízo posterior.

O que se avançou em termos de regulação no mundo? MEIRELLES: As principais medidas são: constituição de colchões de capital, acima do capital mínimo, nos momentos de expansão, para uso nos momentos de contração; adoção de limites máximos de alavancagem; registro de todas as operações no ativo do banco; alocação de capital para todas as operações; e regulação e fiscalização das organizações sistemicamente importantes. No Brasil, já adotamos quase a totalidade delas e vamos além, pois o BC fiscaliza todas as organizações que operam no mercado.