Título: Relator da CPI quer mais investigações
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 17/07/2012, O País, p. 3

Para Odair Cunha, não há necessidade de reconvocar agora o governador de Goiás

BRASÍLIA. O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou que os novos indícios contra o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), são graves, mas ainda não é possível dizer se ele será mesmo indiciado por suposto envolvimento com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e com dirigentes da Delta Construções. Cunha também não vê necessidade de reconvocação imediata de Perillo para depor na CPI. Para o deputado, antes da decisão sobre reconvocação e indiciamento seria importante aprofundar as investigações.

O relator entende que a CPI deve esclarecer alguns detalhes dos negócios da Delta e de Cachoeira em algumas áreas do governo Perillo.

- Há outros elementos que estabelecem vínculos entre a organização (de Cachoeira) com o governo de Goiás que precisam ser esclarecidos. Precisamos fazer uma análise total. Não adianta reconvocação agora. Se for convocado agora ele vai lá e diz o que quer. Temos que ter mais elementos. Também não posso adiantar meu relatório, que só será apresentado em outubro - afirmou Odair Cunha.

Em conversas reservadas, o relator já disse que as informações surgidas até o momento, se não forem devidamente rebatidas, permitiriam o indiciamento do governador. Mas as investigações ainda estão longe de um fim. Cunha só deve apresentar relatório em outubro, depois das eleições municipais. A reconvocação imediata de Perillo é defendida pelos senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), e pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), não defendeu Marconi Perillo nem se opôs à sua reconvocação na CPI, mas questionou a conveniência de ouvi-lo novamente. Para Dias, os governistas querem desviar o foco da comissão para não investigar os contratos da construtora Delta com o governo federal.

- Nada contra (reconvocar Perillo). Não seremos obstáculo, mas eu pergunto: convocar para quê? Para ouvir as mesmas perguntas e as mesmas respostas? O vice-presidente da CPI e o relator já disseram que vão pedir seu indiciamento. Nós queremos ouvir é o Cavendish (ex-presidente da Delta), o Pagot (ex-diretor do Dnit), o Cachoeira e o Juquinha (ex-presidente da Valec). Temos que ser objetivos, avançar - disse o líder tucano.

Segundo a revista "Época" desta semana, relatório da Polícia Federal aponta que Perillo teria condicionado a liberação de pagamentos da Delta ao recebimento de R$ 500 mil. A propina estaria embutida na venda de uma casa de Perillo a Cachoeira, no ano passado. Em nota divulgada no início da noite, Perillo nega que tenha condicionado a liberação de faturas da Delta ao desconto de três cheques emitidos para pagamento da casa. Ele reafirma também que não vendeu o imóvel para Cachoeira.

Perillo atribui pagamentos à locação de veículos

"É infame e desleal a afirmação da revista "Época" de que houve um acerto para que o atual governo de Goiás pagasse em dia as faturas da empresa Delta. Os pagamentos mencionados pela revista referem-se a um contrato de locação de veículos, firmado pelo governo anterior, e são feitos de forma continuada, por se tratar de serviços regulares e pelo fato, também, de a atual administração cumprir rigorosa e pontualmente seus compromissos com fornecedores e prestadores de serviços", afirma o governador .

Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), as explicações do governador são satisfatórias e não há motivos para que ele volte a prestar depoimento à CPI.

- Parece esdrúxulo que alguém use um bem pessoal para acordo ilícito - afirmou o deputado.

Líder do PT na Câmara, o deputado Jilmar Tatto (SP) disse ser contra uma nova convocação de Perillo. Tatto afirmou que as ligações entre o governador e Cachoeira já estão comprovadas e sugeriu que a Assembleia Legislativa de Goiás se reunisse para discutir o impeachment de Perillo.

- Convocar o Perillo para quê? Para ele dar mais um showzinho dele? A CPI deve fazer uma representação junto ao Ministério Público, porque está mais do que provada a relação com o Cachoeira e a Delta. Se a Assembleia de Goiás tiver um mínimo de decência, decide convocá-lo e "impichá-lo" - disse Tatto.