Título: Atentado eleva pressão interna sobre Obama
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 20/07/2012, O Mundo, p. 26

Oposição acusa presidente de abdicar de liderança; governo teme destino de arsenal químico sírio

Correspondente

Reuters

NOVA YORK . O governo dos Estados Unidos vem aguentando há meses críticas por sua inação diante dos conflitos na Síria, mas o atentado que matou parte da cúpula militar do governo Assad elevou a pressão a novos patamares. Uma queda caótica do regime de Bashar al-Assad, com a perda do controle sobre o arsenal químico sírio, é a possibilidade que ocupa o centro das preocupações do governo do presidente Barack Obama.

O presidente enviou seu assessor de Segurança Nacional, Thomas Donilon, a Israel no fim de semana. Com base em informações sobre a presença da rede terrorista al-Qaeda na Síria, as autoridades israelenses estão em alerta para o risco de ataques a instalações estratégicas.

O tom de reprovação dos conservadores vem subindo. Elliott Abrams, que foi assessor de Segurança Nacional dos presidentes George W. Bush e Ronald Reagan, publicou na quarta-feira, no site da "National Review" um artigo acusando o governo Obama de "ficar olhando enquanto a Síria se desintegra". "O que este governo quer, ao que parece ao longo dos 17 meses de revolta na Síria, é se esconder atrás da ONU e de Kofi Annan (enviado especial das Nações Unidas para a Síria). O aparente sucesso da ajuda externa, que rapidamente aumentou a eficácia da oposição, mostra que ele deveria ter sido fornecido antes: a queda do regime poderia ter sido induzida muito antes e milhares de vidas teriam sido salvas", escreveu Abrams.

O adversário de Obama na campanha eleitoral deste ano, Mitt Romney, se somou às críticas após mais um fracasso do Conselho de Segurança em aprovar uma resolução mais dura contra a Síria. "Enquanto Rússia e Irã aceleraram o apoio a Bashar al-Assad e milhares têm sido assassinados, o presidente Obama abdicou de sua liderança e delegou a política dos EUA a Kofi Annan e às Nações Unidas", disse Romney em nota.

Para Christopher Taylor, diretor do centro de estudos do Oriente Médio da Universidade Drew, em Nova Jersey, a cautela do governo se enquadra na doutrina de Obama de intervenções multilaterais, baseadas no consenso. Mas, no caso da Síria, a principal preocupação do governo, diz ele, é com a fragmentação da oposição.

- Há um risco, no caso de uma queda que leve à anarquia, de que se leve ao poder algo ainda pior que o governo Assad. E a Síria tem um enorme arsenal químico, daí a preocupação em acuar Assad. Animais feridos são perigosos - disse Taylor.

Na crise na Líbia, o governo Obama assumiu deliberadamente a posição de sentar-se no banco de trás, numa atitude que foi definida por um assessor na expressão "liderar da retaguarda", logo transformada em motivo de ironia e piadas. A Otan assumiu o comando da implantação da zona de exclusão aérea, destruindo a artilharia antiaérea da Líbia e bombardeando comboios do governo até o desfecho da revolução, com a deposição e morte do ditador Muamar Kadafi.

Na Síria, no entanto, a situação é diferente. O secretário-geral da Otan, Anders Rasmussen, já descartou uma intervenção militar no país, afirmando que "a Síria é etnicamente, politicamente e religiosamente muito mais complicada do que a Líbia".

Além da possibilidade praticamente nula de que a Rússia apoiasse uma intervenção militar na Síria, o governo Obama atua também de olho no calendário da eleição presidencial nos Estados Unidos, marcada para 6 de novembro. Os estrategistas de campanha de Obama querem evitar cenas de soldados americanos envolvidos em mais um conflito no Oriente Médio.