Título: Ecos da Rio+20
Autor: Calvacante Júnior, Ophir
Fonte: O Globo, 20/07/2012, Opinião, p. 7

De repente, a Rio+20 sumiu do noticiário, o que em parte se explica, pois o evento em si tinha data para acabar. O que não podemos aceitar é que seus resultados, ou não resultados, diretamente relacionados ao "futuro que queremos" (não foi esse o título dado ao documento final do encontro?), sejam jogados no limbo .

Na verdade, nuvens negras, tsunamis, terremotos e outras intempéries continuam a pairar sobre as economias das nações desenvolvidas, travando-as e impedindo de brotar uma ideia que seja capaz de as fazer sair do labirinto em que estão, ao menos no curto prazo. Esta situação agravou-se a partir de 2008, com a falência do Lehman Brothers, embora especialistas admitam que remonte aos idos de 1935, quando a banca internacional definiu regras de empréstimos fadadas ao fracasso, comprometendo o sistema e o resto do mundo.

O capitalismo chegou a uma nova encruzilhada justo no momento em que o planeta e sua pungente população de 7 bilhões, que precisam do que a natureza lhes dá, se deparam com outra, bem mais difícil de transpor. Onde fica a saída?

Para ter um futuro, a humanidade precisa pensar mais como espécie e menos como estados, fronteiras ou ideologias. Precisa ser solidária, pois a fome, esteja ela na Meca do consumo, Nova York, ou no interior do Sudão, é rapidamente compreendida sem necessidade de intérprete. Como também uma chuva ácida não precisa de passaporte, nem pede licença .

A Cúpula dos Povos, criada pelos movimentos sociais e ambientais, prestou uma enorme contribuição ao criticar e apontar as gritantes omissões do encontro, mas ainda corre o risco de se tornar uma Babel, como no mito bíblico, se ficar limitada ao discurso imediatista dos que apostam no fim do mundo iminente. Seu mérito continua sendo o de mobilizar organizações não governamentais representativas para se contrapor às formalidades protocolares e diplomáticas que as Nações Unidas vêm impondo a cada rodada de discussões e postergando decisões cruciais.

É inadmissível silenciar enquanto somente uma alta classe média mundial consegue acesso aos alimentos orgânicos, livres de qualquer substância trans. A despensa planetária, o reservatório de água e as florestas estão sendo esgotados muito rapidamente, exigindo um modelo de desenvolvimento que respeite a dignidade e lhe permita sobreviver com decência.

A Rio+20, nesse sentido, deve continuar, ao menos como forma de impulsionar questões ambientais que afinal se sobrepõem e se imbricam com o econômico. Essa tarefa é de todos, uma responsabilidade coletiva que vai afetar nossa maneira de convivência. Não se pode atirar na crise atingindo o homem e tudo aquilo que é essencial à sua vida.

OPHIR CAVALCANTE JÚNIOR é presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).