Título: Telefonia celular peca na qualidade
Autor:
Fonte: O Globo, 20/07/2012, Opinião, p. 6

O Brasil tem mais de 253 milhões de linhas de telefones celulares em uso, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ou seja, o número de linhas supera o de habitantes, uma relação comum em países mais desenvolvidos, porém exceção em economias emergentes. O número de acessos à internet de alta velocidade (banda larga) também passou recentemente de 40 milhões, sendo a maior parte por meio da telefonia móvel, incluindo modems de terceira geração e tablets. Há mais de quatro milhões de pequenas máquinas de cartões de débito e crédito, conectadas aos administradores do sistema pela telefonia celular.

Não há dúvida que a telefonia móvel é um caso de sucesso no Brasil. A possibilidade de conexão proporcionada pelas telecomunicações também contribuiu para alavancar o mercado de computadores pessoais no país, hoje já o terceiro do mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

A telefonia somente se tornou um serviço presente em praticamente todas as localidades brasileiras a partir da privatização das empresas do antigo sistema Telebrás e da abertura da chamada banda B de aparelhos móveis, em meados da década de 90. Vários grupos privados assumiram os serviços de telecomunicações, cientes de que teriam de cumprir um vasto programa de investimentos, previsto no plano de outorgas.

Em face do número de acessos existente, pode-se dizer que as principais metas foram cumpridas. Porém, hoje, o usuário não se satisfaz mais em ter acesso a um serviço de telecomunicações. Ele agora espera que o serviço funcione com qualidade. Deseja que o sinal do seu telefone celular esteja ativo por onde andar, que o modem de internet em alta velocidade, caracterizado como 3G, responda como tal. Em suma, que a qualidade dos serviços seja compatível com o que lhe é oferecido no momento da venda.

O mercado brasileiro de telefonia celular é repartido por várias operadoras, em competição árdua para manter os clientes ou conquistar os dos concorrentes. As regras do setor garantem portabilidade: um cliente pode mudar de operadora permanecendo com o mesmo número. Sem a portabilidade, havia uma fidelidade forçada.

Embora exista esse ambiente de concorrência, o crescimento exponencial da telefonia celular e da internet banda larga móvel não foi acompanhado pela melhoria da qualidade dos serviços no mesmo ritmo. A Anatel tem acumulado muitas reclamações de usuários e tem chamado a atenção das operadoras para a necessidade de incremento nos investimentos. Como a resposta das operadoras não foi suficiente, a agência reguladora resolveu tomar uma atitude drástica, suspendendo a venda de novos acessos nos mercados onde determinadas operadoras têm oferecido serviços com um padrão de qualidade insatisfatório. Atuou como agência reguladora.

Talvez a medida pudesse ter sido evitada se essas próprias operadoras restringissem voluntariamente sua base de assinantes até que as dificuldades para os investimentos fossem superadas. Agora, os investimentos terão de ser realizados em um ambiente de desgaste para as operadoras e o sistema como um todo. Mas foi defendido, como deveria ser, o interesse do usuário.