Título: Morte na ditadura será investigada
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 18/07/2012, O País, p. 5

Comissão da Verdade de PE apurará assassinato de padre auxiliar de Dom Hélder

RECIFE . A pedido da Arquidiocese de Recife, um dos crimes políticos que mais traduziram a crise entre Igreja e Estado durante a ditadura brasileira, o sequestro e o assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, em 1969, será investigado pela Comissão estadual da Memória e da Verdade de Pernambuco.

Na época, padre Antônio era um dos principais auxiliares de Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, então um dos religiosos mais visados pelos militares, chamado de "o bispo vermelho". A morte do padre sempre foi vista como um recado dos agentes repressores a Dom Hélder, cujo nome não podia sequer ser citado pela imprensa.

O corpo do sacerdote, com visíveis marcas de tortura e tiros, foi encontrado em um terreno baldio da Cidade Universitária, na Zona Oeste de Recife, em 27 de maio de 1969.

Este ano, o arcebispo da Arquidiocese, Dom Fernando Saburido, pediu a apuração do assassinato. Ele se prontificou a dar acesso a todos os arquivos da Igreja sobre o caso. Ontem, a comissão estadual recebeu documentos sobre o assunto da comissão nacional.

Até hoje, não se sabe quem assassinou o padre, embora alguns suspeitos tenham sido denunciados pelo procurador-geral de Pernambuco, Telga Araújo, em 1988, 19 anos após o episódio.

"Não há dúvida de que a motivação política se fez presente a impulsionar a mão criminosa dos autores do homicídio do padre Henrique, embora não fosse este um militante político", acusou à época o procurador, para quem o religioso "foi vítima da sanha sanguinária da máquina da repressão montada na década de 60 em todo o país, para silenciar as vozes democráticas". Ele denunciou o então diretor de Investigação da Secretaria de Segurança Pública, José Bartolomeu Gibson; o investigador Henrique Silva Filho e o agente Rível da Rocha. Mas o processo foi arquivado por falta de provas.

O padre teria sido sequestrado e posto numa Rural Willys, automóvel muito usado nos anos 60 pelos órgãos de segurança. Segundo o processo, o veículo era do gabinete de Gibson. A perícia indicou que o padre foi arrastado, espancado e chutado por, no mínimo, duas pessoas, após ter sido posto de joelhos. Depois, foi morto a tiros de revólver.