Título: Professora escreve carta para Dilma Rousseff
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 18/07/2012, O País, p. 3

Após perder filho, mãe pede mais educação

MACEIÓ. No dia 23 de fevereiro deste ano, a educadora popular Maria José da Silva, a Zezé, sentiu o peso do título ostentado por Alagoas, o lugar que mais mata jovens e crianças no Brasil, segundo o mais novo Mapa da Violência.

Tiago Tierra, de 16 anos, foi assassinado ao descer de um ônibus, no bairro Benedito Bentes, um dos mais inseguros de Maceió, a capital mais violenta do Brasil. Estava ao lado de um amigo. Ambos foram mortos, possivelmente por traficantes. Tiago detestava drogas, mas o amigo era usuário e tinha uma dívida.

- As pessoas me dizem que meu filho estava no lugar errado e na hora errada. É uma verdade que dói. Meu filho é alegre, feliz, mas acreditava que poderia convencer o amigo a não se envolver com drogas - diz Zezé, que nunca fala do filho usando os verbos no passado.

Desesperada, Zezé, que sempre pregou em suas aulas que os alunos aprendessem a exercer seus direitos e a cobrar, principalmente, mais saúde e educação, viu-se diante de um abismo. Escreveu para a presidente Dilma Rousseff, pedindo que socorresse as mães de Alagoas.

"Nossas crianças e nossos jovens necessitam que se invista muito mais em lazer e em cultura. Porque, quando se investe em educação, cultura e lazer, se está fazendo o maior investimento na segurança pública... Pois em cadeias não se educa ninguém, nem tampouco em CRMs (Centro de Recuperação de Menores). Faço esse apelo também pelos assassinos do meu filho, para que esses jovens encontrem outras opções de vida que não seja a de tirar vida", diz Zezé em um trecho da carta.

- A resposta veio dias depois. A Secretaria de Defesa Social me telefonou e disse que queria conversar comigo. Prenderam um suspeito, enfim, mas sou coerente. Não quero sangue. Só peço que nenhuma mãe de Alagoas possa sofrer essa perda, nem a mãe do assassino - afirma.

No dia 30 de junho, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, lançou, em Alagoas, o plano Brasil Mais Seguro. É uma injeção financeira de R$ 70 milhões - a maior parte do governo de Alagoas. Prevê uma reforma geral nas áreas de perícia, investimento em pessoal, operações policiais na periferia e uso de mais tecnologia para desvendar crimes.