Título: Assad cada dia mais próximo do fim da linha
Autor:
Fonte: O Globo, 22/07/2012, O Mundo, p. 43

Para especialistas, queda é inevitável, mas ainda pode demorar e deixar Síria mergulhada no caos

RIO

MANIFESTANTE PISA em retrato de Assad durante protesto na Romênia: mundo assiste a desenlace

MEMBROS DO Exército Livre da Síria entoam cânticos contra ditador, em Aleppo: ódio ao regime é único elo a unir oposição síria

Reuters

Bashar al-Assad pode até se agarrar mais um tempo ao poder, mas seu destino está selado: será mais um ditador derrubado pela Primavera Árabe. A sua situação, que já era difícil, se agravou com os acontecimentos da última semana, com os rebeldes ganhando terreno em Damasco e atingindo o coração do poder, com um atentado que matou quatro membros da alta cúpula de segurança do governo sírio.

Se a queda iminente de Assad é consenso entre especialistas ouvidos pelo GLOBO, o papel da comunidade internacional no desenlace do conflito que já deixou quase 20 mil mortos em 16 meses na Síria é alvo de controvérsia. Para Mordechai Kedar, da Universidade Bar-Ilan, de Israel, a janela para o mundo agir já se fechou, e agora ele só pode observar o fim do conflito, que pode seguir o roteiro líbio, tunisiano ou egípcio. Já Nadim Shehadi, do londrino Royal Institute of International Affairs, acha que EUA e Rússia ainda precisam assumir suas responsabilidades.

O futuro da Síria no pós-Assad também é nebuloso, mas o consenso é que a transição de mais de 40 anos de regime Assad para a democracia será turbulento. Christopher Taylor diz que o pior cenário para o país após a queda do ditador pode fazer a situação atual "parecer suave, na comparação". Uma repetição do Iraque, assolado por conflitos sectários nos anos seguintes à derrubada de Saddam Hussein, é um fantasma vislumbrado no horizonte por muitos dos analistas.

Contribui para esse cenário o fato de a oposição síria estar unida somente pelo ódio ao regime, e de nenhuma liderança ter se consolidado desde que explodiu o levante contra Assad, em março do ano passado. Um provável cenário de caos após a derrubada do ditador assusta o Ocidente, que teme que parte do arsenal de armas químicas sírio vá parar em mãos indesejáveis, como as do Hezbollah - um dos grandes perdedores com o fim próximo do regime que sempre o apoiou.