Título: À PF, delegado e Ximenes dizem se conhecer
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 22/07/2012, O País, p. 11

Os dois, porém, dão versões distintas sobre como se encontraram

BRASÍLIA . O delegado da Polícia Federal Deuselino Valadares dos Santos, denunciado na Operação Monte Carlo, e o secretário de Segurança do STJ, José Ximenes de Albuquerque, confirmaram em depoimento que se conhecem, mas deram versões distintas sobre como isso ocorreu. Deuselino disse que conheceu Ximenes porque ele também é policial federal.

Os dois teriam se conhecido nas investigações do furto no Banco Central de Fortaleza em 2005, disse o delegado. Já Ximenes afirmou ter conhecido Deuselino "num curso antissequestro em Brasília em 2007".

Um agente da PF que participou do transporte dos ministros, ouvido na investigação contou que o secretário de Segurança do STJ foi a Goiânia para receber as autoridades e apresentá-las aos policiais. "Ele quis mostrar prestígio perante os ministros do STJ", disse o agente. No depoimento à PF, que abriu procedimento interno para apurar o episódio, Ximenes sustentou que a "segurança pessoal dos ministros" é uma de suas atribuições como secretário de Segurança do STJ, cargo exercido há três anos e meio.

Deuselino foi detido na Monte Carlo e, conforme a denúncia do Ministério Público Federal à Justiça Federal, era "informante de assuntos da polícia" na organização do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Por ser o número três da PF em Goiás, facilitava os interesses do grupo, concluiu o MPF. As investigações mostraram que Deuselino era sócio de Cachoeira numa empresa de segurançaque mantinha contratos com o setor público. Por decisão da Justiça, o delegado foi afastado.

O presidente do STJ, ministro Ari Pargendler, informou não ter sido notificado pela corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, sobre a investigação. "Vamos responder a qualquer pedido do CNJ", ressaltou. O STJ sustenta que ministros podem requerer segurança da PF para deslocamentos fora de Brasília, "independentemente do evento". O STJ informou que Pargendler foi ao casamento do filho da ministra Laurita Vaz e usou o próprio carro para se deslocar.

Outro magistrado dispensou o serviço de transporte a cargo de policiais federais. Conforme ofício remetido pelo MPF ao CNJ, uma equipe de policiais foi destacada para atender o desembargador Vasco Della Giustina, então ministro convocado do STJ. No aeroporto de Goiânia, ele dispensou os policiais e preferiu o serviço de segurança do Tribunal de Justiça de Goiás. Quando os policiais federais chegaram ao hotel para levá-lo de volta ao aeroporto, foram informados de que o desembargador "saiu por conta própria".

A ministra Laurita Vaz já se declarou impedida de julgar habeas corpus impetrado a favor de Cachoeira. Alegou que, por ser goiana e por ter mantido proximidade a autoridades de Goiás supostamente ligadas a Cachoeira, não poderia atuar em processos relacionados ao bicheiro.