Título: Brasileiros têm R$ 1 trilhão em paraísos fiscais
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 23/07/2012, Economia, p. 21

Organização inglesa revela que dinheiro expatriado do país para centros de sonegação é o 4 maior volume do mundo

Os milionários brasileiros têm uma fortuna estimada em US$ 520 bilhões, o equivalente a mais de R$ 1 trilhão, depositada em paraísos fiscais, o quarto maior volume de recursos no mundo, atrás apenas de chineses (US$ 1,18 trilhão), russos (US$ 798 bilhões) e sul-coreanos (US$ 779 bilhões). Para se ter uma ideia dessa "sangria", o dinheiro brasileiro expatriado para centros de sonegação fiscal seria suficiente para pagar metade da dívida pública federal (R$ 1,9 trilhão) e supera a arrecadação de impostos federais no ano passado (R$ 993 bilhões).

Os números estão num estudo divulgado ontem pela organização inglesa Tax Justice Network. O levantamento revela ainda que milionários de 139 países têm entre US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões depositados em "offshores" ao fim de 2010. O valor equivale ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) de Estados Unidos e Japão somados.

"O estudo examinou um enorme "buraco negro" da economia mundial que nunca foi mensurado, a riqueza privada offshore , um vasto volume de ganhos que não são tributados", explicou o economista americano James Henry, ex-chefe da consultoria McKinsey, contratado para comandar a pesquisa.

Somente 100 mil milionários, que formam uma elite financeira global, respondem por US$ 9,8 trilhões do dinheiro depositado em paraísos fiscais. O tamanho da fortuna chama a atenção em um momento que os países precisam arrecadar impostos e cortar seus gastos para enfrentar a crise financeira internacional.

O estudo revelou ainda que 50 bancos privados movimentaram US$ 12,1 trilhões entre as fronteiras dos países em 2010 para os seus clientes. Os destaques ficam para três gigantes globais: UBS, Credit Suisse e Goldman Sachs.

"O setor offshore - especializado em sonegação fiscal - é desenhado e operado não por obscuros bancos sem nome em ilhas suntuosos, mas pelos maiores bancos privados do mundo, escritórios de direito e de contabilidade sediados em capitais como Londres, Nova York e Genebra", diz Henry.

O trabalho não detalha a participação desses bancos na sonegação de impostos no Brasil. O documento teve como fonte dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco de Compensações Internacionais (BIS).