Título: Prejuízo à população
Autor: Gonçalves, Reginaldo
Fonte: O Globo, 23/07/2012, Opinião, p. 6

Como se viu em toda a mídia, Fernando Lugo foi deposto da Presidência da República do Paraguai, país com população estimada de 6,5 milhões (2011), PIB de aproximadamente US$ 33,31 bilhões (2010) e renda per capita de US$ 5,2 mil (2010).

Em 2009, estimava-se que 18,8% da população paraguaia viviam em nível de pobreza, mas, desde 2007, vem melhorando o processo de inclusão socioeconômica. O endividamento externo gira em torno de US$ 2,45 bilhões.

O impeachment do chefe de Estado, realizado em pouco mais de 24 horas, começa a apresentar consequências que poderão prejudicar a população.

As medidas tomadas pelo Congresso paraguaio em um movimento emergencial justificam o processo, que não está sendo considerado golpe de Estado em virtude de atitudes efetuadas pelo então presidente, como: problema com os quartéis, autorização para reprimir invasões de terras, aumento da criminalidade e assinatura de um polêmico documento que poderá gerar problemas no fornecimento de energia.

As consequências de um julgamento expressamente rápido colocam em dúvida as questões da soberania de seu povo. Não se tem conhecimento na História de tal fato, e é de se estranhar tal posição e a forma como o presidente foi destituído, sem condições de defesa.

A situação chamou a atenção dos países vizinhos e alguns, como represália, anunciaram a retirada de embaixadores.

O governo venezuelano ameaçou a retaliação imediata, com o bloqueio no envio de petróleo, o que poderia ter outras consequências para o país vizinho. O vice-presidente Frederico Franco assumiu a chefia de Estado e de governo, mas já se vê numa situação crítica, questionado pela própria população e tentando alinhavar com os países vizinhos uma forma de ajuda para que minimize os impactos negativos do impeachment.

Além dos problemas internos causados pelo impeachment, outras dificuldades surgiram. Poderá, inclusive, haver retaliações, censura pública, dificuldades em produzir e comercializar com outros países.

Essa situação é demonstrada pelos próprios participantes do Mercosul, que suspenderam a participação do Paraguai nas próximas reuniões comerciais. Na situação em que se encontra o Paraguai, e para restabelecer a ordem política e econômica, somente haverá uma saída democrática: uma nova eleição presidencial. Somente nesse caso é possível a volta do equilíbrio e o respeito à população.

As medidas radicais só demonstram fraqueza dos governantes e seus aliados, que se vestem em pele de cordeiro e depois, como se fossem deuses, tomam atitudes que não têm respaldo dos seus próprios pares. Que isso sirva de aprendizado. É muito cedo ainda para identificar os problemas que surgirão, inclusive com as condições das fronteiras, aumento da incidência de roubos e prejuízos de natureza econômica.

As condições de quem mora em fronteira serão difíceis e poderá haver chacinas por conta da grave crise interna.

Reginaldo Gonçalves é professor universitário.