Título: Lucro do Bradesco cresce menos
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 24/07/2012, Economia, p. 19

Economia fraca e calote afetam resultado do banco, que reduz previsão de expansão do crédito

SÃO PAULO

O baixo ritmo da atividade econômica e a alta da inadimplência afetaram os ganhos do Bradesco na primeira metade do ano e levaram o banco a reduzir as projeções de crescimento de suas operações de crédito no ano. O Bradesco informou que fechou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 2,83 bilhões, valor 1,7% maior que o do mesmo período de 2011, de acordo com balanço divulgado ontem. De janeiro a junho, o ganho líquido avançou um pouco mais, 2,5%, ante igual período de 2011, alcançando R$ 5,62 bilhões. Já no primeiro semestre de 2011 o lucro líquido havia crescido 21%, em relação ao mesmo período de 2010. No fim de junho, a carteira de créditos do banco somava R$ 364,96 bilhões, volume 14,1% superior ao saldo de um ano antes. A inadimplência, porém, voltou a subir, pelo quinto trimestre consecutivo.

No fim do mês passado, a taxa de calotes no segundo maior banco privado do país atingiu 4,2%, o que equivalia a R$ 11,6 bilhões em empréstimos com mais de 90 dias de atraso. Se considerados os créditos vencidos há mais de 60 dias, o calote cresce mais, a R$ 14,3 bilhões. No segmento de pessoas físicas e de micro, pequenas e médias empresas, a taxa de inadimplência do banco ficou praticamente estável no trimestre passado, em 6,2% e 4,2%, contra 6,2% e 4,1% no primeiro trimestre, respectivamente. Foi na carteira de grandes empresas que o índice mais cresceu, de 0,4%, no fim de março, para 0,9%.

Provisão contra calote cresce 20%

Para fazer frente à alta da inadimplência, o banco voltou a elevar suas provisões contra créditos para devedores duvidosos (PDD) para R$ 20,68 bilhões, um incremento de 20% em relação a junho de 2011. Volume que garante um índice de cobertura de 177% sobre o total de empréstimos vencidos a mais de 90 dias. Patamar, "muito além das recomendações técnicas", segundo o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.

- O banco mantém um acompanhamento rigoroso da inadimplência e também dos ratings (níveis de risco) dos diferentes tomadores de crédito, além de uma política prudente de provisionamento - enfatizou Trabuco.

Com a continuidade de queda nas taxas de juros e um maior nível de atividade neste segundo semestre, a expectativa, segundo o executivo, é de que os indicadores de inadimplência comecem a declinar.

- Os dados indicam estabilidade e tendência de queda gradual nos próximos meses - disse Trabuco.

Mesmo com a perspectiva de inversão no calote, o Bradesco revisou para baixo a projeção de expansão para as suas operações de crédito este ano: era de 18% a 22% e agora passou à para a faixa de 14% a 18% sobre 2011.

- Esse ainda é um resultado excepcional quando olhamos para o que acontece em outras economias e também para o PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos) do país, que deve evoluir a uma taxa de pouco mais de 2% este ano.

A redução dos spreads (diferença entre custo de captação e as taxas cobradas nos empréstimos) e das taxas de juros nas operações de crédito resultante das pressões do governo sobre o setor bancário também se refletiram na rentabilidade do Bradesco. O retorno sobre o patrimônio (ROE) foi de 20,6% no trimestre passado, abaixo dos 21,4% de janeiro a março, e dos 23,2% do segundo trimestre de 2011.

Receita com serviço sobe 14%

- Temos que contextualizar as revisões dos spreads e das taxas de juros dentro de uma nova realidade. É uma demanda da sociedade e os juros mais baixos vieram para ficar. É algo estrutural e vai exigir mudanças, com produtos financeiros mais segmentados e taxas diferenciadas aos diferentes perfis de risco dos tomadores de crédito - disse Trabuco, que espera uma redução contínua de spreads e taxas de juros nos próximos dois a três anos.

Compensar em parte a redução dos ganhos nos empréstimos com aumento das receitas de serviços (leia-se tarifas) é parte da estratégia do banco para manter suas margens na casa dos 20% nessa fase de transição. Embalada pela abertura de cerca de mil agências no ano passado e a conquista de 1,6 milhão de novos correntistas, as receitas com serviços do banco somaram R$ 4,28 bilhões no trimestre passado, salto de 14,1% sobre o mesmo período de 2011.

- Estamos reduzindo custos operacionais e nossa estratégia de distribuição nos dá escala e torna sustentável as projeções de retorno, de 20% - disse Trabuco.

A despeito do modesto aumento no resultado líquido, o Bradesco encerrou o mês de junho com R$ 830,5 bilhões em ativos totais, e patrimônio líquido de R$ 63,9 bilhões, cifras 20,5% e 20,9% maiores que um ano antes.