Título: Lucro do Itaú encolhe
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 25/07/2012, Economia, p. 21

Ganho do maior banco privado do país no 2 trimestre foi 8,2% menor: R$ 3,3 bilhões

SÃO PAULO

O Itaú Unibanco, maior banco privado do país, registrou lucro líquido de R$ 3,304 bilhões no segundo trimestre do ano, valor 8,23% menor que o do mesmo período do ano anterior. Foi o terceiro trimestre consecutivo que o banco teve resultados menores na comparação anual. No semestre, o ganho líquido também recuou, 5,65%, para R$ 6,73 bilhões. Na segunda-feira, o Bradesco já havia informado aumento modesto em seus ganhos. A perda de desempenho das duas instituições, que viram seus lucros avançarem a taxas de dois dígitos nos últimos anos, é vista por analistas como indício de um novo ciclo para o setor. Para o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, 2012 vai ser um ano difícil para os bancos.

Sua expectativa é de que o resultado consolidado das maiores instituições financeiras tende a ficar muito próximo ou até abaixo do lucro consolidado no ano passado.

- O resultado deste ano ficará muito próximo do que era em 2011, se não abaixo, interrompendo um ciclo de forte crescimento dos lucros dos grandes bancos nos últimos dez anos - disse Rodrigues.

Queda de juros afeta desempenho

Entre os fatores por trás dessa mudança está a queda da taxa básica de juros e as pressões do governo para a redução dos spreads bancários, combinados com a alta da inadimplência, que também corrói os ganhos do setor. Isso, no entanto, não deve ser visto como um sinal de crise no setor:

- Dizer que o sistema bancário está em perigo não é verdade, o que acontece é um momento um pouco mais difícil, mas a indústria bancária brasileira continua sólida - disse Rodrigues.

O lucro do Itaú Unibanco no segundo trimestre foi afetado pela perda contábil de R$ 205 milhões, decorrente da venda de sua participação acionária no Banco Português de Investimento (BPI), concluída em 20 de abril. Se descontados esse e outros efeitos não recorrentes, o lucro líquido do banco entre abril e junho foi de R$ 3,585, alta de 8,5% sobre o mesmo período de 2011.

Como aconteceu com o Bradesco, o aumento do calote afetou diretamente os resultados do banco, que teve novamente de elevar as despesas com provisão para devedores duvidosos, em R$ 5,99 bilhões, 17,3% maiores que as do mesmo trimestre de 2011. Apesar de terem crescido, essas despesas se situaram levemente abaixo das expectativas do banco - de gastos entre R$ 6 bilhões e R$ 6,4 bilhões -, observou o diretor de Relações com Investidores do Itaú Unibanco, Rogério Calderón.

- Também reduzimos nossas expectativas de despesa com devedores duvidosos para o terceiro trimestre, de uma faixa de R$ 6,5 bilhões a R$ 7,1 bilhões para algo entre R$ 6 bilhões e R$ 6,5 bilhões - disse o executivo.

A taxa de inadimplência para empréstimos com atrasos acima de 90 dias atingiu 5,2% no fim de junho, o maior resultado desde dezembro de 2009 e acima da registrada pelo Bradesco, de 4,2%. O indicador cresceu 0,1 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, e 0,7 ponto sobre junho de 2011. Segundo Calderón, a expectativa do banco é ainda de uma elevação moderada nos índices de inadimplência até fim do ano.

A carteira total de crédito do banco atingiu R$ 413,4 bilhões, valor 14,8% maior que um ano antes. Devido ao forte índice de inadimplência no segmento, o Itaú Unibanco está reduzindo o tamanho de sua carteira de financiamento de veículos. O saldo dessa carteira, que foi de R$ 60 bilhões no fim de 2011, estava em R$ 56,6 bilhões no fim do primeiro semestre e deve ficar entre R$ 50 bilhões e R$ 52 bilhões ao fim do ano, informou Calderón. Com essa retração estratégica, as projeções do banco para a expansão de sua carteira total de crédito este ano ficam abaixo 10%.

Como o Bradesco, o banco também reviu para baixo sua projeção de expansão do restante da carteira (sem veículos), que era 14% a 17%, agora para a faixa entre 13% e 15%.

- O crescimento da carteira de crédito será melhor do que a taxa de crescimento anual de 14,8% até o fim de junho, porque deixaremos de considerar o terceiro e o quarto trimestres de 2011 - disse Calderón, acrescentando que a tendência é de uma aceleração da concessão de crédito no segundo semestre.

Ele reconheceu que o sistema bancário está entrando numa nova fase, com redução de spreads , que deverá ser acompanhada de queda na inadimplência. Para se adaptar a esse cenário, o Itaú está remodelando seus produtos, buscando mais garantias para reduzir as taxas e evitar a alta do calote.

A própria associação com o BMG para a formação do Banco Itaú BMG Consignado, anunciada semana passada, foi um movimento para manter resultados positivos neste novo cenário.

- Essa ideia de que a redução do spread está vinculada à lucratividade não é sustentável. É preciso trabalhar com a redução da inadimplência, que é de longe a mais significativa para o Brasil - disse Calderón.